O período ainda não veio e o teste comprado na farmácia está pronto a ser utilizado. Uma ida à casa de banho, uma espera de alguns minutos e o resultado ali está, explícito nos dois tracinhos ou na palavra “Grávida”. Depois das mãos a tremer, surge a alegria: uma explosão ou um crescendo no peito que dá vontade de chegar à janela e gritar para o mundo que vem aí um bebé. Quando os pés voltam a tocar no chão, e em especial quando se trata da primeira vez, é tempo de surgirem as dúvidas, mais ou menos mescladas de receios. A Pais & filhos ajuda-a a navegar estas primeiras, e decisivas, semanas.

Vou ter um bebé e agora?

 

O teste da farmácia é mesmo fiável?

Todos os testes de gravidez – sejam os mais “tradicionais” com tracinhos, sejam os mais recentes com visor digital – funcionam com o mesmo princípio. Através de uma amostra de urina, detetam o nível da hormona gonadotrofina coriónica humana (HCG) que apenas é produzida quando a mulher está grávida. E quanto mais semanas passarem desde o momento da conceção, mais precisos são os resultados, já que os níveis de HCG duplicam a cada dois dias: é por isso que os testes de última geração conseguem dizer quantas semanas tem a gestação. Por outro lado, se o teste for feito antes da altura em que o período deveria aparecer, é possível que os valores de HCG sejam insuficientes para a deteção. Por isso, e por muito que custe, é preferível esperar pelo atraso menstrual de alguns dias. Ou então fazer um teste de gravidez sanguíneo, denominado Beta HCG, que deteta alterações hormonais cerca de 12 dias após a ovulação.

É preciso ir já ao médico?

Idealmente, a mulher deveria ir ao médico mesmo antes de ficar grávida, para garantir que está tudo bem, tanto a nível do sistema reprodutor como da saúde em geral. E isto é válido também para o homem. Mas, à partida, não há motivo para alarme se a gravidez é uma surpresa: na grande maioria dos casos a gestação não apresenta riscos e pode esperar até perto da oitava semana. É importante saber que as contas começam no primeiro dia da última menstruação, ou seja, esta oitava semana corresponde ao primeiro mês sem período, mas ao segundo mês de gravidez.

O que vai acontecer na primeira consulta?

A gravidez é confirmada – habitualmente através de uma ecografia – e são marcados os primeiros testes e análises. Além disso, o médico fará o preenchimento do Boletim de Saúde da Grávida (BSG), o caderninho que acompanha a mulher toda a gestação e até à primeira consulta depois do parto. O BSG contém toda a informação pessoal relevante da grávida, como a história familiar e antecedentes pessoais, história obstétrica e o acompanhamento gestacional até ao nascimento do bebé, incluindo todas as consultas e exames. Em paralelo, o médico mede o peso e a tensão arterial e faz um exame ginecológico para despistar lesões, corrimentos e outros sinais que mereçam atenção e também para determinar as dimensões do útero. A palpação mamária também faz parte desta primeira ida ao consultório.

 

Como sei se a gravidez é ou não de risco?

Existem algumas circunstâncias que indicam que se pode estar perante esta situação, mas cada caso é um caso e por isso foi criada a chamada Tabela de Goodwin, para fazer a ponderação dos fatores de risco. Entre zero e dois a gestação é de baixo risco, de três a seis o risco é médio e uma ponderação igual ou superior a sete significa alto risco.

Os fatores mais comuns são: 

  • Idade da mãe superior a 35 anos;
  • Idade do pai superior a 50 anos;
  • Antecedentes de anomalias genéticas na mulher, no homem, em ambos ou em filhos mais velhos;
  • Filhos mais velhos com alterações cromossómicas ou malformações congénitas;
  • Exposição a fatores externos como raios-x, infeções, consumo de droga e alguns medicamentos;
  • Antecedentes de abortos espontâneos, repetidos ou não;
  • Doenças crónicas e/ou auto-imunes;
  • Complicações surgidas durante a gestação.


Por que devo tomar ácido fólico? 

Idealmente, a toma de ácido fólico deve começar mesmo antes de ficar grávida, cerca de dois ou três meses, mas se isso não aconteceu, quanto mais cedo começar melhor. O ácido fólico é uma vitamina do complexo B12 necessária para o crescimento e o desenvolvimento normal do feto e quando os níveis são deficitários aumentam os riscos de malformações no cérebro e tubo neural do bebé, como é o caso da espinha bífida. Outro suplemento importante nesta fase é o iodo. A orientação é que, antes de engravidarem, as mulheres recebam um suplemento diário de iodo de 150 a 250 ug/dia. A ingestão adequada de iodo é essencial para a maturação do sistema nervoso central do feto e o seu adequado desenvolvimento global, com destaque para a tiróide.

Dores e/ou perdas de sangue. O que faço?

Quando surgem sensações dolorosas, a inquietação instala-se, mas o facto é que nem sempre isso significa que algo está mal. Pode dar-se o caso de a grávida estar a passar pelas primeiras alterações corporais, com estiramento dos órgãos e tecidos, e sentir desconforto semelhante ao do período menstrual.

Por outro lado, cerca de 10 a 14 dias depois da conceção – ou seja, quando o período deveria aparecer – pode dar-se o chamado “sangramento de implantação”, que acontece quando o óvulo fertilizado se fixa na parede do útero. A perda sanguínea é ligeira, mais clara que a menstruação, e pode ser acompanhada de algumas cólicas.

Um sinal de que é mesmo tempo de procurar ajuda acontece se as cólicas forem persistentes durante vários dias ou de intensidade crescente ou se o sangramento aumentar à medida que o tempo passa. Febre e calafrios também devem motivar uma ida rápida ao médico. Se fica mais descansada, fale com o médico: é preferível ouvir dizer que não valia a pena do que ser dominada pela ansiedade, que não é boa para si nem para o bebé.

 

Que hábitos de vida devo adotar? 

Se é fumadora tente largar os cigarros ou, pelo menos, diminuir o número diário. Há mais quatro mil substâncias nocivas no tabaco e conseguir cortar nas quantidades que o organismo absorve já é uma vitória.

O mesmo é válido para o consumo de bebidas alcoólicas, embora, neste caso, ainda não seja consensual junto da comunidade médica a partir de que quantidade o bebé começa a ser afetado. Por outro lado, se toma medicamentos com regularidade, ou se padece de uma doença crónica, fale com o seu médico assistente para gerir a nova situação e adaptar a respetiva terapêutica.

Quanto ao exercício físico, a gravidez não deve ser pretexto para parar com os treinos se eles fazem parte da sua rotina e se não há indicações médicas em contrário. Até porque, as mulheres que se mantêm ativas durante a gestação têm geralmente um parto mais rápido, gerem melhor as contrações e correm menos riscos de intervenções externas.

Como deve ser a alimentação?

A alimentação deve ser variada e equilibrada em todas as fases da vida. E agora não vale a pena comer por dois: um acréscimo de 300 calorias por dia é mais do que suficiente. Fazer cinco a seis refeições diárias, não deixar passar mais de três horas sem comer são os princípios básicos. Fruta e legumes, peixe e carne magros, poucas gorduras e doces e bebidas com cafeína ou teína limitadas devem enquadrar a dieta.

 

Fonte: Elsa Rodrigues, Revista Pais&filhos, número 292, maio 2015

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