Na hora de iniciar a diversificação alimentar, há cada vez mais pais preocupados em oferecer aos seus bebés alimentos mais saudáveis e nutritivos. Há quem procure ajuda especializada ou siga conselhos de outros pais, com o mesmo intuito: abolir os alimentos processados, refinados e açucarados da alimentação do bebé (e já agora da família toda!) e optar por alimentos mais nutritivos, muitas vezes ainda associados a dietas rotuladas de “alternativas”. Como é o caso da quinoa ou do trigo-sarraceno, por exemplo.
A verdade é que a alimentação do bebé não tem de ser monótona e existem muitos alimentos – alguns dos quais considerados “superalimentos”, como a quinoa ou a aveia – que podem ser introduzidos a partir dos seis meses e que tornam a diversificação alimentar mais rica.
“No primeiro ano de vida, a alimentação assume particular importância, uma vez que ocorre um intenso e rápido desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social”, lembra a nutricionista Joana Malta da Costa, sublinhando que “práticas alimentares inadequadas nessa fase da vida podem, no futuro, repercutir de forma negativa no desenvolvimento global e na saúde das crianças”. Até aos seis meses, o melhor alimento em termos nutricionais é (sempre que possível) o leite materno, em exclusivo. A partir desta altura, é preciso introduzir novos alimentos.
De preferência bons!
Para a maioria dos bebés, a introdução começa com sopa, de forma gradual, para que haja uma adaptação progressiva. Geralmente, segue-se a “a regra dos três dias”: um ingrediente novo a cada três dias, para despistar possíveis alergias. “O ideal é começar com dois/três legumes, de sabor mais neutro (batata e cenoura, por exemplo) e ir aumentando progressivamente até aos quatro/seis legumes por sopa. A partir daí deve-se ir variando os legumes, substituindo um de cada vez. Deve-se tentar utilizar legumes frescos, da época e ir variando o mais possível”, aconselha o pediatra Hugo Rodrigues. “A partir do momento em que o bebé está adaptado ao sabor da sopa (geralmente ao fim de três/quatro dias) pode-se introduzir a fruta à sobremesa, de preferência crua”, acrescenta. Depois vêm as papas, mais facilmente aceites pelo bebé, pelo seu gosto adocicado.
Este é o esquema tradicionalmente instituído e, por isso, mais utilizado pelos pais, mas também já há quem recorra a “métodos” diferentes, considerados mais naturais, como o BLW (Baby-Led Weaning ou desmame guiado pelo bebé, numa tradução livre), em que o bebé come os alimentos inteiros pela própria mão, ao seu ritmo, e na quantidade que quer, sem intervenção do adulto. Ou seja, não há alimentos reduzidos a puré e dados à colher. Os defensores deste método garantem que, desta forma, o bebé aprende a explorar sabores, texturas e cheiros, desenvolve a coordenação motora e a mastigação, assim como a sua autonomia.
A família inteira a comer bem
A diversificação alimentar do bebé pode ser uma excelente oportunidade para a alimentação de toda a família. Antonela Vignati lembra que “uma alimentação infantil saudável passa, em primeiro lugar, pela forma como se come em casa, e não por uma dieta artificialmente imposta”. A ideia, sugere, é que “o bebé aprenda a comer pelo exemplo, e que partilhe as refeições com o resto da família em lugar de estar a comer papas ou outras comidas muito diferentes dos outros”. Para a naturopata é esta “artificialidade” que, muitas vezes, está por trás da “rejeição da comida por parte das crianças”. E se a família tiver bons hábitos alimentares, é natural que o bebé comece a diversificação da melhor forma. “Se os pais se centrarem numa dieta baseada nos princípios expressos pela Escola Médica de Harvard, ou seja cereais integrais, legumes, fruta e uma variedade de fontes proteicas saudáveis, onde a carne e os lácteos têm um papel menor, com certeza será de todo natural seguir o exemplo”, defende Antonela Vignati.
Para esta especialista em naturopatia, que faz workshops sobre alimentação natural para bebés e crianças, a própria ideia de diversificação alimentar está (erradamente) colada à noção de “alimentos específicos para a infância”, mas “na verdade os seis meses deviam simplesmente representar o momento em que o bebé (que continua a ser amamentado em livre demanda, ou alimentado a biberão se for o caso), começa a experimentar novos alimentos, os mesmos que os pais comem”. E é aqui que o tipo de dieta familiar é tão importante: “Se os pais tiverem o hábito de comer bife com batata frita e refrigerante, não vai haver grande hipótese de dar uma alimentação saudável à criança, a médio e longo prazo…”
Fugir ao básico
Mesmo para os pais mais conservadores, que prefere manter o esquema tradicional, há opções que podem favorecer a alimentação do bebé e fugir ao mais básico, substituindo alguns alimentos por outros mais nutritivos. “É possível fazer sopas mais saudáveis do que as ‘tradicionais’, fazendo pequenas alterações como substituir a batata por batata-doce, a cenoura e a batata por pastinaca, conseguindo assim variar a alimentação do bebé e adquirir todas as vitaminas e minerais que cada legume pode fornecer. Os coentros, a salsa, o aipo, o funcho são outros ingredientes que, na etapa correta, podem tornar a sopa do bebé mais saudável e com sabores distintos”, sugere Joana Malta da Costa. Antonela Vignati lembra que a sopa “tem a vantagem de poder ser variada todos os dias, mas é apenas uma das hipóteses possíveis para oferecer legumes: podem-se cozer, escaldar ou cozinhar ao vapor e oferecer ao bebé para pegar com as mãozinhas e trincar”.
Então e as papas de cereais? Neste caso, a principal preocupação (e talvez a menos prática para os pais) é evitar a maioria dos produtos comercializados, por apresentarem quantidades elevadas de açúcar na sua composição. Apesar de existirem no mercado algumas papas biológicas sem adição de açúcar, o ideal será preparar papas com cereais em grão como o arroz integral, o millet, a cevada, a aveia, etc… Basta cozê-los até terem uma textura adequada”, sugere Antonela Vignati. Joana Malta da Costa é da mesma opinião: “ Sabemos que devemos dar açúcar o mais tarde possível às nossas crianças… então porquê começar a ingeri-lo logo no início da diversificação alimentar? Nada melhor do que as papas caseiras, feitas com ingredientes de qualidade.”
Sejam quais forem as opções tomadas na hora de introduzir alimentos sólidos na dieta do bebé, é sempre importante falar com o pediatra. Porque é preciso respeitar as características maturativas do bebé e ter em conta o contexto cultural da família. E nesta matéria não há verdades nem regras absolutas.
Vale a pena apostar nos biológicos?
Sim, sobretudo no caso do bebé, que possui “um trato intestinal imaturo, vulnerável e mais facilmente penetrável” por substâncias nocivas como pesticidas e aditivos. Joana Malta da Costa recomenda que se “escolha alimentos da época e com produção em Portugal, quer seja legumes, carne, fruta, iogurtes, leite, entre outros”. Para o pediatra Hugo Rodrigues, a questão é um pouco mais complexa: “Não nos podemos esquecer que também os solos e as águas podem estar contaminados, pelo que não é fácil de garantir que não há mesmo nenhum contato com esse ou outro tipo de químicos.” Por isso, não considera que seja um princípio imprescindível, embora recomendável.
Menu mais rico
Abacate
Muito rico em gorduras saudáveis (monoinsaturados) e excelente para o desenvolvimento do cérebro do bebé. E ainda uma fonte importante de vitamina A e E, cálcio, potássio, ferro e magnésio.
Aveia
É um cereal rico em fibra e muito versátil, que pode ser consumido de várias formas. No início da diversificação alimentar (seis meses), é ideal para confecionar papas. Favorece o bom funcionamento intestinal do bebé e reforça o sistema imunológico.
Batata-doce
Excelente fonte de potássio, vitamina C, fibra e betacaroteno, a batata-doce é uma opção mais saudável e nutritiva do que a batata “normal”. São muito apreciadas pelos bebés pelo seu sabor doce.
Lentilhas
Muito ricas em proteína e fibras, são uma excelente fonte de energia. São leguminosas, por isso só devem entrar na alimentação do bebé depois dos 10 meses.
Quinoa
Considerada um dos alimentos mais completos em nutrientes, a quinoa é rica em fibra, cálcio, ferro, ácido fólico, magnésio e vitaminas. É muito versátil e pode ser incluída na dieta do bebé sob diferentes formas: como substituto de arroz, nos estufados e nas sopas e até como “hambúrguer”.
Fonte:
Pais & Filhos, número 297, outubro 2015