Os passos da emancipação feminina, que surgiram desde o final do século XIX, foram fulcrais para que a mulher obtivesse um papel ativo na sociedade, mas ditaram também o início do declínio do conhecimento, muitas vezes popular, sobre temas como a gravidez, o parto e a parentalidade. Por sua vez, também se observa a emersão da medicina com vista a diminuir a taxa de mortalidade materna e neonatal, que na altura atingia valores bastante elevados. Assim, a gravidez e o parto passam a ser vigiados por profissionais de saúde e a serem conotados como algo íntimo e privado. O parto deixa de ser assistido no domicilio e passa a acontecer no meio hospitalar à porta fechada, destituindo a mulher do seu papel ativo.

Aquilo que poderia até então ser considerado um ato instintivo e algo intrínseco à natureza humana feminina, esfuma-se ao longo dos anos. As mulheres deixam de ter contacto frequente com grávidas, o parto passa para a esfera do desconhecido, fazendo-se acompanhar de verdadeiros relatos de “terror”, e a maternidade vê-se emaranhada num novelo de dúvidas, receios e incertezas.

No final dos anos 70 aparecem os primeiros métodos de preparação para o parto, sendo posteriormente aplicados por profissionais, nomeadamente enfermeiros, que tentam devolver às grávidas algum do conhecimento perdido, designadamente na desmistificação do ambiente hospitalar e no controlo da dor.

Mas a medicina não estagnou e continuou a evoluir de forma a permitir um melhor controlo da dor, recorrendo a técnicas farmacológicas como a analgesia locoregional (epidural) e sempre com o objetivo de diminuir as taxas de mortalidade e morbilidade maternal e neonatal.

Florescem então os cursos de preparação para a parentalidade, que incentivam a participação do pai no processo de gravidez e parentalidade, abordando temas mais abrangentes nomeadamente sobre os cuidados ao recém-nascido, que até então não faziam parte dos tópicos selecionados.

Preparação para o Parto: Como Escolher o Certo

Uma experiência inesquecível

Atualmente, a vida profissional e social inunda o dia-a-dia dos jovens adultos com pressão e exigência constantes. Mas então se a convivência com grávidas, parturientes e recém-mamãs é cada vez mais escassa e o conhecimento “popular” se dissolveu com o passar dos anos, onde sobra tempo para aprender a ser mãe? E os homens, será que não precisam de aprender a lidar com a mulher grávida e parturiente? Será que a maternidade/paternidade emerge com o nascimento do bebé, quando nunca se mudou uma fralda na vida?

Obviamente que “a necessidade é mestra da vida”, como diz o provérbio, mas há certas questões que se forem planeadas e elucidadas se tornam experiências positivas e inesquecíveis. Afinal não é disso que se trata? Tornar a experiência de gravidez, parto e parentalidade num dos melhores momentos das nossas vidas? Tal como os nossos pais nos preparam para a vida, a escola para os exames… não fará sentido preparar-se para aquele que será o propósito da nossa existência?

Claro que sim! E de uma forma geral, principalmente os casais grávidos pela primeira vez, procuram frequentemente um curso de preparação para a parentalidade no sentido de planearem e organizarem a forma como desejam que seja o nascimento do seu filho. Mas para isso há que saber quem o faz e como o faz.

Preparação para o Parto: Como Escolher o Certo

O que deve saber ao inscrever-se

  • Quem ministra o curso – idealmente deverá ser uma equipa multidisciplinar orientada por um enfermeiro especialista em Saúde Materna e Obstetrícia. Segundo a Ordem dos Enfermeiros, é o enfermeiro especialista em Saúde Materna e Obstetrícia que está habilitado a “estabelecer programas de preparação para a parentalidade e de preparação completa para o parto”;
  • Os tópicos abordados – deverão pelo menos incluir os seguintes temas: trabalho de parto, controlo da dor no parto, aleitamento materno, cuidados nos pós-parto, cuidados ao bebé, células estaminais, sexualidade na gravidez e pós-parto;
  • Os direitos da mulher grávida e parturiente – o curso deverá fornecer-lhe as ferramentas para que saiba quais os seus direitos e empoderá-la para que possa fazer as suas escolhas de forma informada e consciente;
  • Se alia sessões práticas com sessões teóricas – pois existem temáticas que são mais facilmente assimiláveis se forem de teor prático, além de conferirem alguma dinâmica ao curso;
  • Inclusão de uma visita à maternidade – de forma a familiarizar os casais com o local do parto;
  • A realização do plano de parto e reflexão – para apresentar aos profissionais de forma a que estes caminhem no sentido das suas expectativas;
  • A frequência das sessões está aberta às pessoas significativas – é importante que o pai esteja presente nas sessões sobre o trabalho de parto caso seja ele a estar presente na sala de partos, se tem uma sessão orientada para os avós ou outras pessoas que possam servir de apoio na gravidez e pós-parto de forma a não haver informações contraditórias;
  • Se são flexíveis e orientadas para as suas expectativas – os cursos devem ser planeados em conjunto com o casal de forma a abordar os temas que lhes suscitem mais dúvidas e receio.
    A gravidez, o parto e a parentalidade assumem formas e expectativas diferentes de casal, para casal, de mulher para mulher e de filho para filho, é uma experiência única e irrepetível pelo que o curso de preparação deve centrar-se na grávida, no casal e na família, tendo em conta o seu contexto físico, psicológico, social e cultural, devendo ser o mais individualizado e dinâmico possível para que toda a família possa ter uma experiência positiva e prazerosa, que prepare acima de tudo uma família consciente e feliz.

Preparação para o parto: Como escolher o certo

Fonte:

Susana Carvalho de Oliveira

Pais & Filhos, número 304, maio 2016

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