Setembro traz consigo a ansiedade, com a entrada de Francisco na creche. Após quatro meses de dedicação quase exclusiva ao filho, Ana Botelho, de 35 anos, prepara-se para deixá-lo ao cuidado de outros. "Estou angustiada. Não sei como ele se irá adaptar e, por outro lado, sei que me vai custar muito estar longe dele. Há o sentimento de que os melhores cuidadores somos nós", diz ao DN a técnica comercial e de marketing. Tal como fez com o primeiro filho, Ana vai optar por uma adaptação progressiva. "Nos primeiros tempos vamos buscá-lo depois de almoço e, aos poucos, vai ficando mais tempo."

Para os pais cujos filhos vão entrar pela primeira vez num infantário, este é um período de muitas dúvidas: será que a criança se vai adaptar bem? Vai alimentar-se? As suas necessidades vão ser satisfeitas? Para aqueles que regressam ao infantário, é tempo de voltar à rotina, depois de um longo período em que se esqueceram de grande parte dos horários e de algumas regras. Em alguns casos, pode fazer sentido aumentar progressivamente o tempo de separação dos pais, dizem os especialistas, mas nunca durante longos períodos. Pais tranquilos e despedidas curtas tornam o processo menos doloroso.

Pais tranquilos e despedidas curtas facilitam entrada na creche

São sobretudo os pais que têm de se adaptar à entrada na creche. "A tranquilidade dos filhos depende da tranquilidade dos pais. Em regra são os mais velhos que se sentem bastante angustiados porque, inconscientemente, acham que estão a abandonar os filhos. Importa que não encarem as coisas desta maneira. A ida para a creche é um processo natural", destaca Teresa Paula Marques, psicóloga que se dedica à área infantil.

Quando as crianças estão a integrar-se na creche, pode ser importante "ir buscá-las um pouco mais cedo, na primeira semana, mas nas semanas seguintes deve iniciar-se a rotina, tendo o cuidado de dizer à criança que a vai buscar a determinada hora e não se atrasar". Como os mais pequenos não têm noção do tempo, a psicóloga sugere que os pais digam que os vão buscar depois de determinada atividade, ou do lanche, por exemplo. Desta forma, destaca, "já estarão à espera e não haverá tanta ansiedade".

Pais tranquilos e despedidas curtas facilitam entrada na creche

Quanto aos que vão regressar ao infantário, Teresa Marques admite que os pais possam ir buscá-los "ligeiramente mais cedo nos primeiros dois ou três dias, mas o desejável é que a criança passe a entrar na rotina, ou seja, que respeite os horários escolares". Uma semana antes do regresso, os horários de adormecer e acordar devem voltar ao que eram antes das férias.

De manhã, cabe aos adultos não prolongar as despedidas. "Nem colocar na educadora a responsabilidade de ser ela a arrancar a criança dos braços dos pais. Deste modo poderão fazer que a relação com a educadora fique comprometida, ou seja, podem transformá-la em má da fita", adverte a psicóloga da área infantil.

Para diminuir a ansiedade, os pais devem pensar naquilo que os preocupa e ter uma atitude proativa, sugere Sandra Belo, da Family Coaching. "Devem refletir sobre aquilo que gostavam de dizer à educadora do filho: se o bebé tem determinado ritual para comer ou dormir, por exemplo. E podem escrever isso num bilhete ou num caderno, que servirá para trocar informações com a creche", propõe a especialista.

Pais tranquilos e despedidas curtas facilitam entrada na creche

Pensar nas razões que o levaram a escolher determinada escola ou naquilo que o trabalho pode trazer de bom à relação com a criança são outras dicas da coach parental. "Também é importante refletir sobre como se vai acolher a criança ao final do dia, o que queremos fazer para aproveitar o tempo."

Já a entrada direta no pré-escolar exige uma outra preparação. Numa altura em que o conceito de aprendizagem ainda é "distante", Luís Ribeiro, presidente da Associação de Profissionais de Educação de Infância, diz que as crianças "devem perceber que vão para um sítio divertido, onde vão brincar muito com outras crianças". Criar expectativas positivas é muito importante, uma vez que será feito um "corte muito significativo, que deixa a criança insegura". É natural que os pais se sintam angustiados, ressalva, mas têm de perceber que o "salto" é importante para o desenvolvimento.

Fonte

Diário de Notícias

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