Todos sabem que os principais elementos da a falta de apetite, as infeções ou a preguiça e adultos são as proteínas, os açúcares e as gorduras. São eles os constituintes fundamentais do nosso corpo pois são indispensáveis para dar forma e energia a todos os nossos órgãos.
Mas para além destes, o organismo necessita de outras substâncias em pequeninas quantidades, para que possa funcionar sem problemas. E entre elas incluem-se as vitaminas.
Apesar dos progressos que se têm verificado na difusão de conhecimentos sobre saúde infantil entre os pais, alguns mitos têm tendência para persistir ao longo do tempo. Os suplementos de vitaminas são um deles. Sem saber bem porquê, são muitos os pais que, nas mais diversas situações, não resistem a fazer a pergunta “e não podemos dar-lhe umas vitaminas?”, como se essas substâncias fossem a cura milagrosa para situações como a falta de apetite, as infeções ou a preguiça.
O que são as vitaminas?
As vitaminas não funcionam como constituintes do nosso corpo ou como fonte de energia, mas são indispensáveis para que ele possa funcionar. Apesar de existirem no corpo em quantidades mínimas, cada vitamina tem um papel importante no funcionamento de alguma parte do organismo ou na formação de determinado tecido ou órgão. Por essa razão, são importantes para situações tão diferentes como a estrutura dos ossos, a resistência dos dentes, a cicatrização de feridas ou interromper uma hemorragia devido a um corte.
O nosso corpo não é capaz de fabricar vitaminas. Por isso, temos de as ir buscar a diversos alimentos. As necessidades de vitaminas são tão pequenas, que uma alimentação equilibrada é tudo o que é necessário para manter os níveis de vitaminas adequados.
Ao contrário dos outros nutrientes (proteínas, gorduras e açucares) as vitaminas não têm uma função construtora ou uma função energética. A sua principal função é regular o funcionamento do organismo, permitindo que os outros nutrientes consigam executar as suas funções. Dizemos, por isso, que têm uma função reguladora. Existe um grande número de vitaminas, cada uma com diferentes funções.
Vitamina A
Esta é principalmente a vitamina da visão. Com a sua ajuda conseguimos ver bem mesmo com pouca luz. Tem também um papel importante no crescimento dos ossos, na defesa contra as infeções e na estrutura da pele. Pode ser encontrada em legumes (cenoura, abóbora, batata doce, espinafre), frutas (pêssego, alperce, melão, manga), lacticínios, manteiga e gema de ovo.
Se a criança tiver uma alimentação com deficit desta vitamina vai sofrer de incapacidade de visão com pouca luz. Nos casos mais graves, a falta de vitamina A pode provocar cegueira, atraso de crescimento e maior suscetibilidade às infeções. Nas carências desta vitamina, a pele fica seca e descama com facilidade e as unhas e os cabelos tornam-se quebradiços. Mas se ingerida em excesso, pode provocar problemas de saúde como náuseas, falta de apetite, tonturas e dores de cabeça. Em casos graves pode levar ao aparecimento de hemorragias e coma.
Vitaminas B (B1, B2, B3, B5, B6)
Esta é uma verdadeira “família” de vitaminas que participam em numerosas reações químicas no organismo, permitindo que este tire o maior proveito de todos os outros nutrientes, como as gorduras, hidratos de carbono ou proteínas.
Existem num enorme conjunto de alimentos, como os cereais, hortícolas, lacticínios, carne, peixe, ovo e leguminosas. A sua carência pode afetar um grande número de órgãos e ter implicações numa enorme quantidade de funções do nosso organismo.
Vitamina C
A célebre vitamina C é importante para o crescimento da criança e para o fortalecimento dos ossos e dos dentes. Tem também um papel importante na cicatrização das feridas e ajuda a combater as infeções. Também ajuda o ferro a ser absorvido nos intestinos, e desta forma a combater as anemias. É a vitamina mais famosa. Pode encontrar-se principalmente em produtos hortícolas (brócolos, espargos ou tomate) e frutas (banana, amora, kiwi, manga, melão, laranja, ananás e morangos).
Se ingerida em quantidade insuficiente provoca cansaço, fraqueza muscular, aumento das infeções e má cicatrização de feridas. Nos casos mais graves provoca uma doença chamada “escorbuto” com hemorragias, hematomas, queda dos dentes e do cabelo e inflamação com dores nas articulações.
Vitamina D
Esta é a vitamina mais importante para o crescimento e fortalecimento dos ossos e dos dentes. Tem a particularidade de poder ser produzida na pele, sob ação da luz do sol, mas está também presente em muitos alimentos, fundamentalmente nos peixes gordos (cavala, salmão, sardinha, atum, arenque), gema de ovo, queijo e manteiga.
Quando a criança não tem níveis de vitamina D suficientes pode ter um atraso no crescimento em altura, atraso no aparecimento e enfraquecimento dos dentes. Os ossos ficam igualmente enfraquecidos, doença conhecida por “raquitismo”, que leva ao arqueamento das pernas e a uma curvatura anormal da coluna. A alimentação dos bebés até aos 12 meses pode ser deficiente nesta vitamina pelo que os pediatras dão habitualmente um suplemento em forma de gotas durante o primeiro ano de vida.
Mas se dada à criança em excesso pode provocar náuseas, falta de apetite, dores de cabeça, atraso de crescimento, diarreia e excesso de produção de urina.
Vitamina E
É uma vitamina essencial para a estabilidade das células do nosso organismo, desde as células do sangue até às do sistema nervoso, passando pelos ossos, músculos e órgãos da reprodução. Esta vitamina tem um papel protetor contra doenças do envelhecimento, como as doenças cardiovasculares ou a doença de Alzheimer. Pode ser encontrada em cereais (trigo), amêndoas, nozes, avelãs, pistácios, amendoins e óleos alimentares. Quando os seus níveis são baixos as principais manifestações ocorrem por lesão das células do sangue, sistema nervoso, ossos e músculos. A criança fica com anemia, descoordenação motora e falta de força.
Vitamina K
A vitamina K é uma vitamina essencial para a coagulação do sangue. Felizmente grande parte da vitamina K de que a criança necessita é produzida nos seus intestinos pelas bactérias intestinais. Mas também pode ser ingerida através de alguns alimentos, como hortícolas (brócolos, cenoura, couve-flor, aipo, espinafres), frutas (alperce, uva, pera, ameixa) e leguminosas (ervilhas).
Quando a criança não tem uma quantidade suficiente de vitamina K pode ter hemorragias frequentes, em qualquer local do corpo. Por prevenção, todos os recém-nascidos recebem uma injeção de vitamina K ao nascer, para prevenir a ocorrência de hemorragias nos primeiros dias de vida.
Vitamina PP (Niacina)
Esta é uma vitamina fundamental para que o organismo possa produzir energia a partir dos outros alimentos e todos os órgãos necessitam da sua presença para funcionar normalmente. Encontra-se principalmente nas carnes, peixes (cavala, salmonete, salmão, peixe-espada) e leguminosas (ervilhas e feijão). A carência de niacina provoca lesões da pele, diarreia e depressão. Podem também ocorrer fadiga e perda de apetite.
Vitamina B12 e Folato
Estas são duas vitaminas essenciais para o crescimento e desenvolvimento da criança. São especialmente importantes para a formação dos glóbulos vermelhos, as células do sangue que transportam o oxigénio, e das células nervosas. A vitamina B12 apenas existe em alimentos de origem animal, como os laticínios, ovos, carne vaca ou marisco. O folato existe nos produtos hortícolas (espargos, repolho, couve-flor, espinafre), nas frutas (laranja) e nas leguminosas (ervilhas, feijão e lentilhas). Quando a alimentação da criança é deficiente nestas vitaminas ela apresenta um crescimento diminuído e um atraso no desenvolvimento. São características a anemia e as alterações no sistema nervoso.
Os conceitos fundamentais
Depois de tantas e tão variadas vitaminas, de sabermos quem são, para que servem e onde se encontram, é necessário fazermos uma pequena revisão dos conceitos mais importantes:
- As vitaminas são elementos fundamentais para o funcionamento do corpo da criança.
- As quantidades necessárias de cada vitamina na dieta são mínimas e elas existem em grande quantidade de alimentos pelo que uma dieta equilibrada fornece à criança todas as vitaminas de que ela necessita sem necessidade de quaisquer suplementos extra.
- Só em casos de malnutrição muito grave ou erros alimentares grosseiros é que a criança pode ficar deficiente em alguma vitamina. Algumas doenças podem também provocar uma menor capacidade da criança em absorver algumas vitaminas, mas são situações raras e fáceis de identificar pelo pediatra.
- O excesso de vitaminas pode provocar doenças graves.
- Existem à venda dezenas de gotas, xaropes, saquetas, carteiras e comprimidos contendo vitaminas para serem fornecidas às crianças como suplemento à sua alimentação. Não devem ser dadas, exceto em situações particulares e a conselho do pediatra.
- O único suplemento vitamínico aceite pela Academia Americana de Pediatria, para ser fornecido a crianças saudáveis, é o suplemento de vitamina D a ser dado aos bebés no primeiro ano de vida.
As vitaminas são fundamentais mas a natureza encarregou-se de as distribuir de tal forma por tantos alimentos que é difícil nos países ocidentais uma criança ficar deficiente em alguma delas. Muitos pais têm dificuldade em instituir regras de alimentação aos seus filhos e veem nos suplementos de vitaminas um remédio para atenuar a fraca qualidade de alimentação dos seus filhos. A solução passa mais por rever os hábitos alimentares da família e menos por disfarçar problemas com recurso a medicamentos.
Fonte:
Paulo OOM (Pediatra)
Revista Pais&Filhos
número 290, março 2015