O desenvolvimento da linguagem é sempre um marco importante na vida de qualquer criança e uma etapa que gera alguma ansiedade aos pais. No entanto, é fundamental que as expectativas sejam realistas e adequadas ao desenvolvimento infantil, pelo que convém esclarecer algumas noções importantes.

Grande parte dos bebés começa a querer comunicar por volta dos nove meses, mas fá-lo sem intenção. A partir daí começam a perceber que os sons diferentes têm significados também diferentes e, por volta dos 12 meses, tentam já dizer intencionalmente uma/ duas palavras. Depois desta idade, o desenvolvimento da linguagem faz-se muito mais na sua vertente de “compreensão” do que de “expressão”, o que significa que as crianças passam a entender cada vez mais aquilo que se lhes diz, mas não acompanham do mesmo modo com o que conseguem dizer. É por este motivo que, por volta dos 18 meses de idade, é normal as crianças entenderem cerca de 500 palavras, mas só verbalizarem cinco a seis palavras. Expressões como “ele entende tudo, mas não diz quase nada…” são frequentes e, geralmente, acabam por espelhar relativamente bem a realidade. A partir daí as crianças passam a conseguir verbalizar cada vez mais palavras e fazem-no, numa primeira fase, repetindo tudo o que ouvem e só posteriormente dizendo as palavras intencionalmente. Neste processo chegam habitualmente aos dois anos com a capacidade de criar frases simples, compostas por duas/ três palavras (por exemplo: “Mamã, bola”, “Papá, quer água”) e este acaba por ser o principal marco em termos de linguagem expressiva no desenvolvimento infantil.

Claro que há crianças que fogem um pouco a esta regra e acabam por ter um desenvolvimento da linguagem mais acelerado, mas o que é suposto é que cumpram estas etapas que eu descrevi acima. Compreendo que as comparações (com irmãos, primos, vizinhos, amigos) sejam muito tentadoras, mas acho que se devem evitar, sob pena de causarem preocupações infundadas nos pais.

O Meu Filho Ainda Não Fala

Sabia que…

As crianças com menos de dois anos que contactam mais com as novas tecnologias têm mais probabilidade de desenvolver um atraso da linguagem.

Ecrãs limitam linguagem

Atualmente, discute-se muito a consequência da exposição precoce aos “ecrãs”, seja em termos de capacidade de atenção, seja em termos do desenvolvimento infantil. Em relação à linguagem, parece mais ou menos consensual que antes dos dois anos esse contacto não só não traz benefícios, como pode ser prejudicial. Esse facto deve-se principalmente a dois aspetos:

1) Os programas e jogos dedicados a esta faixa etária usam mais a estimulação visual (cores, luzes, formas) e musical do que a verbal.

2) Grande parte das vezes as crianças ficam sozinhas, “entregues” a esses aparelhos o que limita a imprescindível interação pais-filho.

Algumas destas desvantagens conseguem-se atenuar pelo acompanhamento por parte dos pais. É isso que deve acontecer desde o nascimento e, particularmente, nos primeiros tempos de vida, pois não há nenhuma altura em que o cérebro cresça e se desenvolva tanto. E a linguagem é apenas um dos muitos aspetos a ter em conta!

O meu filho ainda não fala

Fonte:

Hugo Rodrigues, pediatra e autor do blogue Pediatria para todos e do livro Pediatria para todos)

Pais & Filhos, número 304, maio 2016

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