Quando ir para a maternidade é uma questão sempre pertinente. Por muito que vá conversando sobre o assunto ao longo da gravidez, há sempre dúvidas. A revisão da matéria dada tem o efeito de fazer sentir a grávida mais segura. E quanto mais tranquila e confiante estiver, melhor será o seu desempenho no trabalho de parto”, reconhece a ginecologista e obstetra Marcela Forjaz, no seu livro Parto Feliz. Os sinais de parto são, por isso, um tema obrigatório nos cursos de preparação para o parto. Vanessa Costa, enfermeira especialista em saúde materna e obstétrica, no Centro do Bebé, confirma: “Os sinais de parto são um dos assuntos que abordamos sempre. Está integrado num conjunto de temas que consideramos importantes e que os casais devem ser informados e capacitados durante a gravidez, pois não só previne complicações, como promove a confiança do casal”.

Está na Hora de ir Para a Maternidade?

Ex-sinal de parto

“Há uns anos ainda assisti algumas grávidas que chegavam à maternidade a dizer: ‘Doutora, tive sinal de parto’. Tinham perdido uma ‘ranhoca’ ensanguentada ou um pouco acastanhada, por via vaginal. A maior parte das vezes tinham alta por não estarem em trabalho de parto, o que as deixava sobejamente contrariadas”, conta Marcela Forjaz. Classicamente considerado um sinal de parto, a perda do rolhão mucoso passou a ser “um ex sinal de parto”. Hoje em dia, sabemos que desde que se perde o rolhão mucoso até ao parto podem decorrer… semanas!”, esclarece. O rolhão mucoso é um muco cervical espesso que forma uma barreira física e que protege o feto e as membranas que o envolvem da passagem de agentes que poderiam causar danos. A permanência do muco depende da estabilidade do colo. Se o colo dilatar ou encurtar um pouco, uma porção desse rolhão destaca-se da parede interna do colo e pode aparecer no exterior. “Mas não é preditivo de um parto breve. Apenas dá-nos indicação de alterações no colo do útero. É como que uma preparação gradual do corpo para o momento do parto, mas não podemos se o trabalho de parto se vai iniciar naquele dia ou noutro dia qualquer. É importante que as grávidas estejam informadas sobre estas alterações, para evitarem idas desnecessárias à urgência da maternidade”, alerta Vanessa Costa.

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As famosas contrações

Primeiro parecem dores menstruais ou pontadas na zona lombal. Vão e vêm. Pouco a pouco tornam-se mais frequentes, são cada vez mais dolorosas e duram cada vez mais tempo. As famosas contrações indicativas de trabalho de parto caracterizam-se por serem regulares, de intensidade crescente e não aliviam, quer esteja em atividade quer em repouso. Não se preocupe: vai perceber logo quando as sentir… Quando estiverem com intervalo de cinco minutos durante hora e meia a duas horas, é tempo de ir para a maternidade. “A grávida deve deixar a situação instalar-se pelo menos durante umas duas horas, para ter a certeza que não se trata de um falso trabalho de parto. A decisão de ir dependerá da forma como sente as contrações: se a dor não for de intensidade intolerável e se vai sentindo movimentos do seu bebé, deixe-se estar em casa enquanto achar que é confortável”, aconselha Marcela Forjaz, no livro Parto Feliz. E deixa algumas sugestões para fazer neste tempo de espera: “Pode descansar um pouco deitada de lado, preparando-se para a etapa que se avizinha, deambular pela casa, utilizar uma bola de Pilates se tiver, sentando-se e basculhando a bacia. Pode ainda tomar um duche mais prolongado, insistindo com o chuveiro sobre a região lombal”.

A partir de meio do segundo trimestre são comuns as chamadas contrações de Braxton Hicks, que não são sinal de parto. São irregulares, de intensidade e duração variável, habitualmente não dolorosas e, ao fim de algum tempo, desaparecem. São consideradas contrações de treino, pelo que não devem ser confundidas com as “verdadeiras”.

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Rebentar das águas

Perante a rotura de membranas, o conhecido “rebentar das águas”, a grávida deve ir para a maternidade, mesmo que não tenha contrações. A rotura de membranas é sinónimo de necessidade de vigilância fetal. Pode acarretar algumas complicações e a forma de as prevenir é o acompanhamento em internamento. Mas vá sem expectativas de se despachar rapidamente. A média de tempo para entrar em trabalho de parto, após uma rotura de bolsa de águas sem contrações, é de 12 horas.

Nem todas as mulheres expulsam a mesma quantidade de líquido amniótico pela vagina. Em algumas é apenas um gotejar, ao passo que em outras é um grande fluxo repentino. Surpreendentemente, estima-se que em apenas 25 por cento das grávidas rebentem as águas antes do parto.

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A ginecologista e obstetra Marcela Forjaz, num tom divertido, chama a atenção para este tema: “Sentir-se molhada pode significar apenas que está… incontinente! Peço desculpa pela franqueza, mas a realidade é que um grande número de grávidas fica, ao longo da gravidez, com algum grau de incontinência. É motivo frequente de confusão com a rotura de membranas”. Então, como distinguir: líquido amniótico ou urina? Em oposição à urina, o liquido amniótico é transparente e sem cheiro. Para testar, deve esvaziar a bexiga completamente, limpar-se muito bem e vestir roupa seca. Experimente tossir e fazer alguns movimentos de esforço. Se num curto intervalo de tempo ficar de novo molhada, deverá ser líquido amniótico. É importante anotar a hora, a cor e a quantidade de líquido que perdeu para comunicar ao médico na maternidade. A enfermeira Vanessa Costa reforça: “Se o líquido for claro e sem cheiro fétido, não é necessário ir a correr, mas também não pode esperar até ter contrações. É importante que se dirija calmamente para a maternidade. Mas, se a perda de líquido for esverdeada ou hemática, então deverá manter-se deitada par o lado esquerdo e dirigir-se com alguma urgência para o hospital”.

Quando os sinais de parto chegarem, calma é a palavra-chave. Esqueça as cenas de filme de Hollywood, em que a grávida não tem tempo para chegar à maternidade. “Apesar das informações práticas serem sempre referidas, é muito importante que as grávidas integrem como seus estes conhecimentos e que tenham confiança nelas próprias e nos seus bebés, pois são eles, em conjunto, que vão ter a capacidade de fazer nascer”, resume Vanessa Costa. E conclui: “Os sinais de parto são apenas o início de um final que queremos que seja sempre feliz!

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Afinal não era…

Isabel Ferreira, enfermeira especialista em saúde materna e obstétrica, no centro Gimnográvida, partilha alguns episódios engraçados de grávidas ansiosas com os tão esperados sinais de parto.

“Já acompanhei várias grávidas que tinham receio de caminhar por acharem que podiam estimular o trabalho de parto antes do tempo. No final de cada caminhada, sentiam uma grande pressão na zona pélvica e uma certa estimulação uterina, com o aparecimento de algumas contrações irregulares, e assustavam-se pensando que tinha chegado a hora”.

“Recordo-me também de uma grávida que após comer um grande prato de feijoada ficou com imensas contrações… Na verdade, foram estimuladas pela presença de gás em exceção no intestino e ela achava que estava mesmo em início de trabalho de parto! As contrações estavam a ser provocadas pelas hormonas que atuavam nos intestinos no sentido de eliminar o excesso de gases. Era só isso!”

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Fonte:

Pais & Filhos, número 297, outubro 2015

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