O calor aperta e a sua silhueta mostra uma barriga enorme, pesada, imprópria para grandes aventuras, desvarios ou noitadas. Passar o mês de agosto grávida, sobretudo se for o terceiro trimestre, pode não ser a situação ideal, mas também não tem de ser um drama. O calor não é o melhor amigo da grávida, mas é uma janela aberta para dias (e noites) bastante agradáveis: pense nos vestidos leves e frescos, nos pés descalços, nas esplanadas ao fim do dia, nas sestas ao ar livre, na boa disposição das pessoas à sua volta e, acima de tudo, no tempo disponível para namorar, descansar e retemperar energias. Tudo o que precisa antes de receber nos braços o seu bebé. O resto pode ser contornado com alguns cuidados, paciência e imaginação.
Chegar ao destino
Férias de verão são quase sempre sinónimo de viagem. De avião ou de carro, para o estrangeiro ou cá dentro, não há nada mais animador do que saber que vamos sair do nosso ambiente e da nossa rotina por algum tempo. Estar grávida não é impedimento para viajar, mas requer alguns cuidados. Apesar de não existirem contraindicações para andar de avião, a maioria das companhias aéreas tem uma política de restrição a partir da 32ª semana de gravidez para evitar o risco de parto prematuro durante o voo.
Nas viagens de carro, o melhor é fazer paragens de dez minutos a cada duas horas para “esticar as pernas” e caminhar um pouco. Mesmo que não se lembre desta “regra”, é natural que a sua bexiga lhe recorde que é preciso parar amiúde, sobretudo quando a barriga já pesa! É importante colocar o cinto de segurança de forma correta para não exercer demasiada pressão na barriga (a parte inferior do cinto abaixo do abdómen e a parte diagonal entre o peito). Se puder, passe a tarefa de conduzir e instale-se confortavelmente no banco ao lado. Peça ao condutor alguma contenção no acelerador e aproveite para relaxar, conversar e apreciar a paisagem.
Cuidados com a alimentação
Tal como no resto do ano, é importante manter uma alimentação equilibrada e saudável no verão. Por si e pelo bebé. Opte por peixe e carne grelhados, mas tenha em atenção que estes devem ser sempre bem passados, para evitar intoxicações e infeções alimentares. Se fizer refeições fora de casa, deixe de lado as saladas. Apesar de muito apetecíveis nesta altura do ano, é preferível não arriscar, sobretudo se não for imune à toxoplasmose. Quem diz salada, diz também gaspachos e fruta com casca.
Opte por legumes cozidos, frutas descascadas e deixe as saladas e os gaspachos para as refeições feitas em casa, onde tem a certeza de que as verduras são muito bem lavadas. Assim, pode ficar descansada em relação à toxoplasmose e também evita o risco de intoxicações alimentares, que, na gravidez, podem ter consequências mais sérias.
Esqueça os molhos, como a maionese, e prefira temperar as saladas e os legumes com azeite. É importante ter atenção ao aumento de peso e respeitar as “proibições” ditadas pelo seu médico, sobretudo se sofrer de diabetes gestacional. Nesse caso, não facilite. Mas se o peso não for um problema de maior, então também haverá lugar para um ou outro pecado. Afinal, as férias também são deliciosas por isso. E também aqui, pode fazer escolhas inteligentes. Evite, por exemplo, os gelados de nata, muito calóricos, e opte pelos de iogurte. Regra geral, são feitos à base de iogurte natural magro e, por isso, têm poucas calorias. Opte pelos simples, sem toppings! Para a praia, o melhor é levar fruta fresca, bem lavada e água, muita água. Evite os refrigerantes e não abuse dos sumos naturais: apesar de saudáveis, contêm açúcar e, por isso, não convém exagerar.
Pele nutrida e bem protegida
É natural que a pele fique mais seca durante a gravidez, um problema que se acentua ainda mais se aumentar o número de banhos por dia por causa do calor e da transpiração. Mas com um bom creme hidratante e mais aplicações por dia consegue devolver à sua pele a sensação de conforto e elasticidade. Se puder, use cremes específicos para as zonas mais críticas: antiestrias para a barriga, coxas e peito. Na praia, na piscina, no campo ou cidade, a regra número um é proteger a pele do sol. Use e abuse do protetor solar (com um índice de proteção elevado). Evite as horas mais perigosas (entre as 11h e as 16h) e não se exponha durante muito tempo. O ideal seria alternar 15 minutos ao sol com 15 minutos à sombra. Não se esqueça de reforçar o protetor solar, sobretudo na barriga e no rosto (para evitar o aparecimento de manchas). Também é importante proteger a cabeça e, hoje em dia, já não há desculpa para não usar chapéu ou boné porque existem modelos para todos os gostos.
Guerra à retenção de líquidos
Se tem tendência para ter as pernas inchadas e pesadas, esta é uma época complicada, pois o calor agrava a retenção de líquidos e a pressão nas veias. Por outro lado, as temperaturas elevadas favorecem a desidratação e a perda de minerais, o que potencia o aparecimento de cãibras. O mesmo acontece com as varizes: o verão não ajuda, sobretudo se já estiver no último trimestre de gestação. Mas é possível atenuar os incómodos.
Caminhar é uma boa estratégia. Se está de férias na praia, aproveite o início ou o fim do dia para fazer longos passeios à beira-mar. Além de ser relaxante, ajuda a aliviar os sintomas.
Hidratar também é fundamental: beba muita água e evite refrigerantes e bebidas gaseificadas. Aumente também o consumo de frutas e verduras.
Outra opção para atenuar o inchaço e a sensação de peso nas pernas é a massagem. E não precisa de gastar dinheiro em terapeutas: pode pedir ao marido que lhe faça esse miminho, uma vez por dia.
Para intensificar o efeito da massagem pode usar um gel apropriado, que deixa uma sensação de frescura e leveza. À noite, e durante a sesta (se a fizer), durma com as pernas um pouco elevadas (cerca de 20 centímetros).
Duches tépidos
Com o calor e as alterações hormonais é natural que transpire mais. Para não se sentir desconfortável, opte por duches tépidos frequentes, (lembre-se de hidratar muito bem a pele após o banho). Se está no último trimestre de gravidez, evite os banhos de imersão, porque existe o risco de não detetar uma possível rutura da bolsa de águas.
No final da gestação, o colo do útero começa a abrir e, por isso, também são de evitar os mergulhos nas piscinas públicas, já que o risco de infeção aumenta. Uma boa forma de se refrescar frequentemente é usar um spray de água termal. Na praia ou em casa, ajudam a evitar a sensação de pele ressequida. Pode até colocar o spray no frigorífico para reforçar a sensação de frescura. Estes sprays podem ser grandes aliados nas noites muito quentes em que é difícil adormecer.
Bonita e muito confortável
Esqueça os quilos a mais, não pense na silhueta que perdeu, ignore a roupa que não lhe serve. Concentre-se na linda barriga que carrega e nos olhares e sorrisos que recebe na rua (não há quem resista à graciosidade de uma grávida). Na verdade, vai ter saudades da sua barriga mais cedo do que imagina. Por isso, mais vale exibi-la com orgulho. Opte por roupas leves, frescas, de tecidos naturais (algodão, linho, seda…) e fluidas. É essencial que se sinta confortável. Evite roupa muito justa. Os vestidos amplos, curtos ou compridos, são uma boa opção para esta altura e ajudam a suportar os dias quentes.
Provavelmente, não lhe apetece gastar muito dinheiro em roupa que só vai usar durantes dois ou três meses, mas também não precisa: peça algumas roupas emprestadas às suas amigas que tiveram filhos recentemente. Assim, até tem desculpa para um telefonema e dois dedos de conversa.
Além da roupa, também é importante escolher calçado confortável. Invista numas sandálias cómodas e ponha de lado os saltos altos… pelo menos por agora. O conforto deve ser a sua prioridade máxima
Benefícios para o bebé
Nascer no verão pode ser vantajoso para os bebés: as investigações realizadas nesta área mostram que as crianças nascidas em agosto e setembro são mais altas e têm uma estrutura óssea maior do que as nascidas na primavera e no inverno. Isto porque as mães receberam um maior aporte de vitamina D, através da exposição ao sol, durante o último trimestre de gravidez. Além disso, estes recém-nascidos estão menos expostos aos vírus típicos dos meses frios, pelo que adoecem menos no início de vida. A asma também parece ser menos prevalente nas crianças nascidas nos meses quentes: durante o outono e o inverno, a tendência é passar mais tempo em casa, com as janelas fechadas e o aquecimento ligado, o que faz com que o bebé esteja mais exposto a alergénios.
Fonte:
Revista Pais&filhos, nº 295, agosto 2015