Joana tem um ano e não imagina que muitas pessoas já sabem tudo sobre ela. Desde a gravidez que os pais lhe fizeram um perfil no Facebook, onde foram colocando todas as informações, desde a primeira ecografia, até às fotografias do nascimento. Seguiu-se o primeiro sorriso, as gracinhas, as dificuldades em adormecê-la… está tudo documentado com imagens e vídeos repletos de “likes” e comentários. Uns amigos foram trazendo outros e a página já conta com mil amigos, muitos deles seguidores atentos da vida da bebé.

O caso da Joana não é único. Muitos pais abrem perfis em redes sociais em nome dos filhos. Contudo, segundo as regras de utilização destas redes, apenas adolescentes a partir de 13 anos podem criar uma conta na rede social. Apesar de não existir um consenso sobre a idade ideal, o objetivo é permitir apenas a entrada de pessoas que, mesmo ainda muitos jovens, já sejam capazes de separar o certo do errado e fazem escolhas baseados nos seus valores. Ao falsear as informações, forjando uma idade de nascimento mas com uma fotografia real, estes pais podem, inadvertidamente, estar a colocar os filhos em risco quando publicam imagens e informações nas redes sociais. Certo é que cada vez este fenómeno é mais frequente.

Um recente estudo nos EUA mostrou que 63 por cento das mães usam o Facebook e destas 97 por cento disseram colocar fotografias dos filhos; 89 por cento fazem diariamente comentários no mural sobre eles e 46 por cento publicam vídeos. Outro estudo feito pela AVG em 10 países, revelou que 80 por cento dos pais de crianças até aos dois anos já colocaram, pelo menos uma fotografia dos filhos na web, sendo que a maioria faz a sua primeira aparição cerca de uma hora depois de nascer.

crianças na rede

 

O que é que as crianças mais tarde pensarão disto?

Será ético colocar fotografias de quem não pode dar o seu consentimento? E que tipo de informações mais tarde as crianças vão querer ter nas redes sociais? Estas questões se colocam quando falamos em publicar fotografias dos mais pequenos. É difícil sabermos o que vai acontecer daqui a 10 ou 20 anos, quando atingirem a idade adulta, mas o certo é que esta “pegada digital” ficará marcada e poderá vir a ter repercussões negativas nas suas vidas, pessoais e até profissionais. Sabe-se, por exemplo, que atualmente muitas agências de recrutamento utilizam as redes sociais para pesquisar dados sobre os candidatos a emprego. Posto isto, as informações que se colocam hoje poderão condicionar o futuro. Não será agradável que um jovem, numa entrevista de emprego, seja confrontado com perguntas do tipo “então você só deixou de dormir com os seus pais aos 10 anos?”.


Predadores sexuais

O risco de algum predador sexual perseguir uma criança com base numa fotografia colocada na rede social é baixa mas, ainda assim, não pode ser completamente negligenciado. Esta prática torna-se mais perigosa se existem referências facilmente reconhecíveis, ou informações que podem identificar a localização da criança. Há ainda a hipótese de surgirem fotomontagens, ou a fotografia passar a constar num site de imagens, o que não é muito agradável.

Esta questão assume uma maior importância quando se tratam de nus. Fotografias do banho ou a clássica imagem do bebé completamente nu em cima da cama poderão ser recordações a manter, mas não para partilhar na rede e as razões são bastantes óbvias. É que, depois de a fotografia ser publicada, deixa de haver qualquer controlo sobre ela e sobre o modo como é usada. Mesmo adicionando todas as configurações de privacidade, existem pessoas com conhecimento suficiente da área de informática que podem visualizar estas fotografias, copiá-las, modificá-las e usá-las depois para outros fins.

 

Exposição ao ridículo

Fotografias do tempo em que usava fraldas ou sentado no bacio, o vídeo daquela enorme birra do supermercado… são situações que passado algum tempo acabam por ter graça e que os pais gostam de recordar. Contudo, ao colocá-las na rede social, podem vir a constranger e, inclusive, tornar a criança vulnerável ao bullying.

Estas imagens são o ideal para mostrar presencialmente a um grupo de amigos, ou familiares, mas não deverão ser divulgadas num contexto mais alargado. Facilmente vão parar a um fórum online, ou a sites de piadas e a partir daí não há controlo possível. Sentir-se humilhado é algo que no mundo virtual, tem repercussões sérias no quotidiano do visado. É que uma realidade não está desligada da outra. As implicações psicológicas poderão ser devastadoras e até conduzir ao suicídio. Posto isto, cabe aos pais não agirem de modo impulsivo e pensarem duas vezes antes de colocar uma fotografia ou um vídeo. Uma sugestão será ponderarem se o filho mais tarde gostaria que os outros tivessem acesso a esta imagem/informação. Se se tratar de algo embaraçoso, pouco lisonjeiro ou íntimo, há que manter no plano privado, fora da rede social, pois só assim se poderá ter a certeza que a imagem não será usada contra ele.

Cuidado com as informações dadas de forma indireta

Há também que evitar a publicação de fotografias onde seja possível identificar a escola, sendo que por vezes isso acontece de um modo indireto, ou seja, a funcionalidade de localização geográfica está desativada, mas é possível identificar o local através do uniforme das crianças, por exemplo. Há também que evitar a revelação de quaisquer informações sobre o ginásio que frequenta, o ATL, ou outras atividades e rotinas diárias. Além disso, de modo algum se deve colocar o nome completo da criança. Ter bastante atenção às etiquetas na bata escolar, ou mesmo o nome escrito na mochila.

Colocar fotografias no ambiente de trabalho dos pais é igualmente perigoso. O mesmo se aplica a imagens onde surja claramente, a fachada da casa onde habitam, o nome da rua ou pontos de referências evidentes! É igualmente de evitar fotografias do interior da casa, onde estejam bem visíveis objetos de valor, como a televisão, computadores, tablets, ou imagens dos presentes caros que o seu filho recebeu no aniversário. Deste modo, os pais estarão a quebrar muitas barreiras de segurança e, no limite, estas informações podem ser usadas num plano de assalto ou mesmo de sequestro.

Educar através do exemplo

Para além de tudo o que já referimos, quando são os próprios pais a colocar fotografias, vídeos ou outras informações sobre as crianças numa rede social estão a dar-lhes um mau exemplo e a transmitir-lhes a ideia de que não há nada de errado nesse procedimento. Ao invés, os mais pequenos devem ser ensinados sobre os perigos inerentes à revelação de informações a estranhos. Os smartphones e outros dispositivos electrónicos vieram facilitar a colocação de fotografias online, pelo que cada vez é mais importante que as crianças compreendam os perigos deste ato. É certo que todas as redes sociais incluem ferramentas de segurança que, apesar de não anularem completamente os riscos, os diminuem substancialmente. Contudo, é de uma enorme ingenuidade acreditar que os riscos estão controlados apenas porque o perfil só pode ser visualizado por amigos e amigos dos amigos. Mas quem são os amigos dos amigos? Todo cuidado é pouco… Assim sendo, é preferível deixar as imagens das crianças apenas acessíveis aos amigos e muitas delas nem sequer deverão ser publicadas.

Não publique fotos dos filhos de outras pessoas

É natural que numa festa de aniversário surja a ideia de tirar com o telemóvel uma fotografia de grupo e publicá-la automaticamente numa rede social. Este ato, muitas vezes impulsivo, pode conduzir a constrangimentos, já que cada família tem a sua opinião/posição sobre a colocação de fotografias nas redes sociais, pelo que esta ideia pode não ser muito bem acolhida. Posto isto, há que respeitar a intimidade de cada um e não expor sem consentimento prévio. Jamais publique  uma fotografia de outra criança sem a autorização dos pais!

Estar atento e informar-se

Geralmente os pais gostam de constar da lista de amigos dos jovens na rede social. Este facto tem um lado muito positivo, uma vez que diversos estudos mostram que identificar a família, em especial os pais, constitui um factor de dissuasão para os pedófilos. Contudo, esta presença deverá ser o mais discreta possível. É de evitar, por exemplo, publicar fotografias de quando o filho era bebé porque o pode envergonhar face aos amigos, ou estar constantemente  a colocar likes em todas as publicações e comentários no mural. À semelhança do que se passa na vida offline, os jovens não gostam de estar sob o olhos dos mais velhos. Este desconforto com a omnipresença parental levará a que os bloqueie. Ainda em relação aos mais pequenos, a sobreposição nas redes sociais pode também conduzir a um narcisismo exacerbado, já que crescer com a ilusão  de ser admirado por milhares de pessoas, muitas delas virtuais, não é certamente benéfico para o desenvolvimento emocional e social. Para abordar estes e outros aspetos ligados à segurança da Internet, assinala-se anualmente o “Dia da Internet mais Segura”. Por todo o país organizam-se palestras e debates sobre esta temática, tentando sensibilizar e informar diversos grupos alvo, para que os riscos sejam cada vez mais diminutos.

Fonte:

Teresa Paula Marques (Psicóloga)

Revista Pais&Filhos

número 291, abril 2015

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