Lígia Noia é formadora e consultora em organização, uma atividade praticamente desconhecida em Portugal. O interesse por esta área surgiu-lhe em plena gravidez da segunda filha, quando procurava ideias para conseguir organizar-se num quarto pequeno com duas crianças. Apaixonou-se pelo tema, especializou-se e, agora, divulga os seus conselhos através de vários workshops e do blogue “Organizar com Lígia Noia”. Para a Pais&filhos, escolheu sete dicas úteis para pôr, desde cedo, os mais pequenos a arrumar.
Ajudar desde cedo
As crianças começam, desde cedo, a querer ajudar em casa. Querem imitar os pais e podem começar aos dois anos a fazer pequenas tarefas. Não tem necessariamente que ser o arrumar. Podem ajudar em algumas tarefas simples, como limpar o pó, lavar alimentos, colocar/retirar roupa do estendal, colocar a sua roupa suja na máquina de lavar… Se a criança começar a fazer esse tipo de tarefas desde cedo os primeiros tempos, naturalmente mais tarde será mais fácil querer ajudar em outras áreas como a arrumação dos brinquedos, do material escolar ou das roupas.
Pequenas responsabilidades para começar
As crianças, desde logo, devem ter a oportunidade de participar, podendo ter algumas responsabilidades na arrumação das suas coisas. Sugiro que comecem por arrumar os brinquedos, guardar o pijama, ajudar a fazer a cama, empurrar o cesto das suas roupas engomadas para o quarto.
Quarto à medida
Os pais querem muito ter a ajuda dos filhos na arrumação do quarto, mas nem sempre têm o espaço das crianças adequado para que elas sejam independentes. Ou seja, se a criança não chega ao armário da roupa, ficará sempre dependente dos pais para escolherem as roupas e para as guardarem. A colaboração da criança pode começar desde a escolha do local onde as suas coisas são guardadas, passando pelas cores e decoração. É preciso depois testar se a criança consegue sozinha abrir as gavetas, os armários ou chegar às caixas sem precisar de ajuda. A arrumação deve ser muito simples e fácil, caso contrário não funciona. Deve ser preferido o que é funcional, em vez do que é mais bonito. Depois é só respirar fundo e deixar a criança fazer tudo sozinha. Uma vez que ela está a aprender, não vai certamente arrumar como os pais gostariam. Mas, numa primeira fase, o objetivo é motivar e incentivar a criança a ajudar.
Regras essenciais
Três regras muito simples e essenciais: destralhar; um lugar para cada coisa e cada coisa no seu lugar.
O quarto das crianças é uma das áreas da casa mais difíceis de manter arrumada. As crianças estão sempre a crescer e a precisar de roupas novas, estão sempre a trazer trabalho para casa e receber mais brinquedos. Assim sendo, destralhar é o primeiro passo e o mais importante. O excesso de coisas que já não são necessárias dificulta a arrumação, a limpeza, o bem-estar e rouba espaço para a brincadeira e torna mais difíceis as rotinas da manhã para encontrar o que é mesmo importante.
O passo seguinte é ter um lugar para cada coisa. Se existir esse lugar especifico, e identificado, é muito provável que a criança colabore. E quando cada coisa tem o seu lugar, podemos ensinar à criança que depois de utilizada tem de voltar para o lugar onde pertence.
Criar sítios para as coisas
É importante definir áreas de arrumação, distintas para a roupa, os sapatos, o material escolar, o material desportivo, os brinquedos e os livros. A arrumação deve estar junto do local onde será necessária a sua utilização. Não faz sentido a criança brincar na sala e ter os brinquedos no quarto. Desta forma, dificilmente os brinquedos regressam ao seu lugar. Neste caso, poderá ser uma boa opção ter um armário ou caixa com alguns brinquedos na sala e periodicamente ir trocando com os brinquedos que estão no quarto. Um aspeto a não esquecer é ter algum espaço vazio para os objetos que frequentemente entram em casa ou destralhar frequentemente. Na prática, o mais difícil não é arranjar lugares para as coisas, mas é criar rotinas para que as coisas voltem ao seu lugar e não se espalhem por toda a casa.
Hora do arrumar
Arrumar deve estar incluído na rotina diária da criança, tal como lavar os dentes ou vestir o pijama. Quanto mais cedo for criada essa rotina, mais cedo a criança considera que a arrumação faz parte do seu dia-a-dia. Se consideramos que a arrumação irá acompanhar a criança para o resto da vida, que irá trazer vantagens para a sua vida enquanto estudante, profissional e adulto, percebemos facilmente que é importante incluir esta tarefa nas rotinas, o mais cedo possível.
Perfeição, inimiga da arrumação
A arrumação perfeita não combina com ter filhos pequenos! É tudo uma questão de prioridades, quando o tempo disponível é limitado. Se pretendermos chegar à perfeição, o resultado pode ser uma grande dose de frustração e os pais não precisam disso na vida exigente que já têm.
O objetivo deverá ser encontrar um equilíbrio entre ter uma casa arrumada e ter tempo para estar com os filhos. Por vezes, a casa estará menos arrumada, porque a prioridade está nos filhos. Outras vezes, a arrumação pode ser a prioridade, porque ter uma casa limpa e organizada traz bem-estar a toda a família. Este é o equilíbrio que os pais devem gerir.
A minha sugestão é os pais colaborarem com os filhos, não através de castigo, mas de cooperação. Que se divirtam em conjunto na arrumação, como se fosse uma brincadeira. Que utilizem esse tempo para estar com os filhos a 100 por cento. Que façam elogios quando as crianças conseguem arrumar, mas não se preocupem demasiado se não ficar perfeito ou como os pais querem, porque o importante é a aprendizagem.
Arrumar é divertido
Arrumar deve ser uma experiência positiva, não só para os pais como para os filhos. Se assim for, os mais pequenos colaboram mais facilmente. Afinal, qual é a criança que não gosta de experimentar coisas divertidas?
- Crie um kit de limpeza colorido para cada filho (ver sugestões em http://organizarcomligianoia.blogspot.pt/2015/03/posso-ajudar-mama.html);
- Arranje um balde colorido com o nome de cada filho, para que, no final do dia, cada um coloque os seus objetos no balde e vá arrumar no lugar onde pertencem;
- Torne a arrumação num jogo com regras específicas. As regras podem ser: “Vamos lá ver quem consegue arrumar em cinco minutos?” ou “Quem consegue acertar com os lego la dentro, sem tocar na caixa?”;
- Transforme a arrumação num jogo divertido. Por exemplo: “Eu vou terminar de arrumar a cozinha e tu arrumas os legos. Vamos lá ver quem termina primeiro!” Outra sugestão é utilizar um relógio cronómetro colorido apenas para a arrumação. Assim perguntamos: “Será que conseguimos arrumar tudo em cinco minutos?”.
Lígia Noia deixa uma última dica: “O mais importante é ensinar as crianças a perceber que se os brinquedos estão desarrumados, será mais difícil encontrarem os seus brinquedos favoritos!”
Fonte:
Ana Sofia Rodrigues
Pais & Filhos, número 302, março 2016