Tudo começa com a mãe. Ela é a primeira com­panheira de brincadeiras do bebé e a sua pessoa favorita no mundo inteiro. Ele delira com o som da sua voz, a visão da sua cara e o toque das suas mãos. Por isso, a ajuda da mãe (e do pai, claro, que é a sua segunda pessoa favorita) é muito importante para o desenvolvimento das competências socais do bebé. Com a ajuda deles, o bebé vai familiarizar-se com outras pessoas e começar a apreciar também a sua companhia.

Desde que nasce, o bebé responde à presença de outras pessoas. No primeiro ano de vida as suas capacidades para socializar estão muito limitadas à mãe e ao pai, uma vez que o recém-nascido foca os seus esforços em descobrir tudo o que pode fazer sozinho, como pegar em objetos, gatinhar, andar e outras habilidades.

A partir dos dois anos, o bebé começa a gostar de brincar ao lado de outras crianças, mas, como em qualquer outra competência, as suas capacidades socais vão precisar de ser “afinadas” através da tentativa e erro. Primeiro, ele não vai querer partilhar brinquedos, por exemplo, mas à medida que aprende a criar empatia com os outros, torna-se um melhor companheiro de brincadeiras. Por volta dos três anos, está pronto para fazer amigos. Mas, vamos por fases.

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Passo a passo

Já estabelecemos que o bebé é uma criatura social desde que nasce, que adora ser tocado, pegado ao colo, acarinhado, e que se fale com ele e se sorria para ele. Logo no primeiro mês, ele vai começar a experimentar fazer-nos caretas. Adora olhar para a mãe e costuma imitar os seus gestos. Por exemplo, se lhe deitarmos a língua de fora enquanto o olhamos, é provável que ele faça o mesmo. Também ouve com atenção todos os sons que fazemos, e aprendem eles. O contacto olhos nos olhos é muito importante, pelo que devemos fazê-lo quando falamos com ele. Mesmo antes do bebé conseguir balbuciar, estamos a dar um contributo importante para as suas capacidades linguísticas quando falamos com ele. Pode parecer que estamos a fazer um monólogo, mas o nosso bebé está atento e beneficia muito com esta interação.

Por volta dos três meses, o bebé passa a maioria das horas em que está acordado a olhar para tudo o que está à sua volta. É por esta altura que nos brinda com o seu primeiro sorriso genuíno, e brevemente torna-se especialista na “conversa-sorriso”, que consiste em começar uma interação connosco sorrindo na nossa direção, ao mesmo tempo que gorgoleja.

Aos quatro meses o bebé começa a estar mais aberto a novas pessoas, recebendo-as com guinchos de satisfação. Ainda assim, ninguém chega aos calcanhares da mãe e do pai, e é para eles que o bebé reserva as reações mais entusiásticas. É provável que, por esta altura, comece a balbuciar, e é também natural que os pais observem um salto grande na sua capacidade de interagir com eles. Para encorajar estes dois comportamentos sociais, fale com ele sempre que puder, mesmo quando não está concentrada nele e anda pela casa a fazer as lides domésticas, por exemplo.

Chegamos aos sete meses. Na maior parte do tempo, o bebé está tão ocupado a aperfeiçoar as suas habilidades que não se interessa por se relacionar com outra criança. Quando pomos dois bebés com menos de um ano juntos, o normal é que cada um pegue num brinquedo e comece a brincar sozinho. Isto não quer dizer que não haja interesse noutras crianças, principalmente agora que a sua mobilidade é maior, mas é quase sempre um interesse passageiro. A interação entre eles limita-se a um olhar, talvez um toque, e depois voltam à sua vida; ainda assim, de vez em quando, ele vai sorrir ao outro bebé, ou até mesmo imitar os seus sons. No entanto, as suas pessoas favoritas continuam a ser a família chegada. Dentro de alguns meses, pode até começar a ter medo de pessoas estranhas e a sofrer de ansiedade de separação.

No final do seu primeiro ano, o bebé pode começar a parecer antissocial, chorando quando saímos de ao pé dele e mostrando sinais de ansiedade quando está ao colo de alguém que não a mãe ou o pai. Muitas crianças passam por esta fase de ansiedade da separação, que acontece normalmente entre os dez e os 18 meses.

No segundo ano de vida, entre os 13 e os 23 meses, o bebé está muito interessado no mundo, em particular na forma como se relaciona com ele. À medida que aprende a falar e a comunicar com os outros, também aprende a fazer amigos. Agora já aprecia a companhia de outros miúdos, quer da sua idade, quer mais velhos. Nesta fase, no entanto, é muito protetor dos seus brinquedos, e alguns pais têm dificuldade em lidar com isso, pois acham que o seu filho devia aprender a partilhar. É normal que a criança imite os amigos e passe muito tempo a observar o que eles fazem. Também começa aqui a sua luta pela independência, e pode recusar a nossa mão quando andamos na rua, ou fazer uma birra porque lhe dize­mos que não pode levar o leite e as bolachas para comer no quarto.

Entre os dois e os três anos, é provável que o nosso bebé seja muito egocêntrico. Não é caso para preocupação: à medida que cresce, e com a nossa ajuda, vai aprender a partilhar e a esperar pela sua vez.

À medida que o bebé cresce, gosta cada vez mais da companhia de outras pessoas, principalmente de outras crianças. Vai aprendendo a responder aos outros em situações sociais, e isso faz com que desfrute cada vez mais dos momentos passados com companheiros de brincadeira. Observar e interagir com outras crianças é ótimo para o seu desenvolvimento. Conforme aprende a pôr-se no lugar do outro e percebe o quão divertido é ter outros miúdos para brincar, torna-se capaz de criar amizades verdadeiras e duradouras.

O nosso papel

À mãe (aos pais) cabe passar muito tempo a olhar para o bebé, principalmente nos primeiros meses. Ele adora a atenção e aprende pelas nossas expressões.

Convidem amigos e familiares para vos visitarem em casa. As crianças adoram visitas, novas ou mais velhas, especialmente quando todas as atenções estão concentradas em si.

Não se sintam chateados ou envergonhados se o bebé desenvolver ansiedade relativamente a estranhos. É perfeitamente normal, e pode começar a partir dos oito ou dez meses. Se o bebé chora quando o põem ao colo da tia ou do primo, peguem nele de volta, e tentem um processo mais lento: deixem-no confortável nos vossos braços ao pé dessa pessoa; depois, ela deve falar com o bebé e brincar com ele enquanto vocês o seguram; finalmente, passem-no para o colo dela por um curto período, mas fiquem por perto; de seguida, experimentem sair da sala por uns minutos, para ver como corre. Se o bebé chorar, voltem imediatamente para lhe pegar e tentem mais tarde.

A partir do ano, o bebé pode beneficiar da companhia de outras crianças, pelo que podemos combinar momentos de brincadeira com os filhos de amigos ou vizinhos. O sexo não entra nesta equação, pois nestas idades rapazes e raparigas brincam bem juntos. Devemos, sim, certificar-nos que temos brinquedos que cheguem para todos, porque o mais provável é que não estejam dispostos a partilhá-los.

Também podemos inscrevê-los em atividades que lhes deem a oportunidade de estar com outras crianças. Rapidamente o nosso bebé vai aprender a fazer amigos. 

Atividades para socializar

  • A música é uma excelente forma de socialização. As “aulas” ou concertos para bebés focam-se na parte afetiva, com a música a servir como veículo de comunicação. Os bebés batem palmas, abanam o corpo e até acompanham a música com os seus gorgolejos e balbucios. O mesmo, claro, é válido para a dança. Que criança não gosta de se mexer? A base da dança para bebés é o jogo em movimento.
  • O ioga para bebés (sobre o qual lhe vamos contar tudo na próxima edição) começa também a ser uma opção a considerar, uma vez que cada vez há mais locais onde está disponível. Os mais pequenos realizam os exercícios de uma forma mais passiva, em contacto permanente com o corpo da mãe, mas à medida que se tornam mais autónomos começam a seguir mais ou menos por conta própria.
  • O contacto pele com pele, o toque da mãe… Os bebés adoram, e as aulas de massagens para bebés proporcionam tudo isto num ambiente de grupo, em que ainda podemos partilhar inquietações com outros pais. A parte técnica que aprendemos também é uma mais-valia para aplicar em casa, em momentos a dois com o nosso pequenino.
  • Se vivemos na cidade, combinar um fim de semana no campo com amigos (de preferência que também tenham filhos) pode ser uma atividade estupenda. Um ambiente diferente do habitual é rico em novos estímulos, e os miúdos vão gostar de estar uns com os outros no mesmo espaço, mesmo que ainda não brinquem juntos.
  • Ir ao teatro pode parecer uma atividade pouco social, uma vez que está cada um para seu lado, mas a verdade é que estamos a partilhar com os outros, no silêncio, o que vai acontecendo no palco. As obras dedicadas a crianças até aos três anos são mais experiências sensoriais e visuais do que um exercício de argumento, pelo que é garantido que o nosso bebé não só vai aguentar o tempo do espetáculo como se vai divertir muito.
  • A água é um meio onde os bebés se sentem em casa, pelo que nunca é cedo demais para os inscrever na “natação”. Aqui, por mais pequenos que sejam, os seus movimentos limitados ganham novo fôlego, e o bebé movimenta-se como nunca o conseguiria fazer em terra firme. Pais e filhos permanecem em contacto permanente nestas aulas, o que é ótimo para fortalecer o seu vínculo afetivo, e há também toda a parte de relacionamento com os outros que, em paralelo, partilham o mesmo espaço.
  • E por que não um piquenique no parque com os tios e primos ou os vizinhos e os seus filhos? Convém é escolher bem o local: amplo, com relva, e numa zona afastada dos baloiços, porque nestas idades estes equipamentos obrigam-nos a estar completamente centrados no nosso bebé, e a ele tornam-no completamente dependente de nós. E não é isso que se pretende com este piquenique, mas antes proporcionar ao nosso bebé um espaço aberto, onde possa movimentar-se com relativa autonomia e empreender as suas explorações enquanto nos observa e nós o observamos.
  • Os bebés não precisam de saber andar ou falar para se dei­xarem hipnotizar por histórias e contos. Podemos verificar se nas bibliotecas ou livrarias à nossa volta existe alguma hora do conto, mas, caso não haja, nada nos impede de improvisar uma com familiares e amigos. O adulto que vai contar o conto senta-se no chão, rodeado pelos bebés, com o livro virado para eles, e vai contando a história à medida que vira as páginas. Não convém que os bebés sejam muitos, uma vez que, para conseguirem manter a atenção no conto nestas idades, têm de estar muito próximos de quem o narra. Ouvem-se histórias em grupo, e ainda se começa a desenvolver o amor pelos livros. Só vantagens, não é?

Estas são apenas algumas ideias, mas a imaginação é o limite. A verdade é que muito daquilo que fazemos naturalmente – desde beijar e abraçar o nosso bebé até falar e brincar com ele – ajuda-o a aprender como interagir com os outros. Tudo o que pudermos fazer de atividades programadas além disso, não é imprescindível, mas ajuda. Ainda falta algum tempo até que ele esteja pronto pata construir amizades entre pares, mas somos nós que lhe damos as bases para uma vida social rica quando crescer mais um pouco.

Fonte:

Rosa Cordeiro

Revista Pais&Filhos

número 290, março 2015

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