O primeiro olhar
Aquela imagem em que o bebé nasce e desata a chorar desalmadamente nem sempre é verdadeira. E quando é, passa depressa. Muitos bebés deixam a barriga da mãe de olhos bem abertos, cheios de curiosidade pelo mundo. Podem choramingar um pouco, como que a perguntar: “que raio de sítio é este?”, mas assim que são postos no colo da mãe acalmam e procura a cara que corresponde à voz que os acompanhou durante nove meses. Quando a encontram, fixam-na, bem no fundo dos olhos, como que a perguntar: “com que então és tu?”. É pena que em muitas maternidade ainda levem os bebés para examinar e vestir e mais mil e uma coisas, porque mãe e bebé deviam assim, pelo menos, umas horas, em contacto pela com pele, olhos nos olhos, a misturar cheiros e bactérias. Vários estudos dão conta dos benefícios deste primeiro contato: para o sistema imunitário do bebé, para a vinculação entre mãe e filho, para o sucesso da amamentação. São momentos preciosos. Afinal, é esta a primeira impressão com que o bebé vai ficar desta nova vida. Se se sentir aconchegado, amado, seguro, certamente vai encarar o mundo com mais confiança.
O primeiro banho
Geralmente, o primeiro banho do bebé é dado na maternidade com a ajuda das enfermeiras, e até parece que não custa nada. Em casa, sem o apoio de ninguém, é que surgem todas as dúvidas. O primeiro passo é aquecer o local onde vai dar o banho. Pode ser no quarto ou na casa de banho, desde que numa banheira apropriada. Depois, prepare o lençol de banho e a roupa que irá vestir a seguir. Encha a banheira com água quente, mas não a escaldar. Se for uma banheira tradicional basta encher pela metade, se for uma banheira shantala convém encher de forma a que o corpo do bebé fique todo submerso e apenas a cabeça de fora. Nos primeiros banhos não é preciso lavar o bebé com sabonete, nem gel, nem champô. Só água é suficiente e não agride a camada protetora da pela (camada lipídica) com que o bebé nasce. Também não é preciso demorar muito tempo. É normal que o bebé estranhe as primeiras vezes que entra dentro de água e, por isso chore. Mas com o tempo irá habituar-se e quase todos acabam por adorar o momento do banho, que é também um momento de interação e brincadeira com os pais.
A primeira consulta
Ainda na maternidade, o bebé é observado por um pediatra, mas, cerca de uma semana depois do nascimento, deve voltar a ser observado pelo médico assistente. O objetivo desta primeira consulta é ver o estado geral do bebé, a sua vitalidade e força muscular, avaliar os vários estádios de desenvolvimento e realizar o exame neurocomportamental (os reflexos), despistar anomalias congénitas, avaliar as funções dos diversos aparelhos (respiratório, gastrointestinal, etc.) e avaliar o crescimento físico. Além disso, é uma oportunidade para os pais colocarem todas as dúvidas que tiverem sobre estes e outros aspetos do bebé. É uma consulta que exige muita disponibilidade e tempo. O momento alto costuma ser quando o médico testa os reflexos do bebé. É nessa altura que os pais percebem como o seu filho já é capaz de tanta coisa assim que nasce. O reflexo da marcha automática, por exemplo, mostra como os recém-nascidos já vêm preparados para andar, pois quando segurados pelas axilas, na posição vertical, conseguem colocar um pé à frente do outro. Este reflexo desaparece uns dias depois, outros permanecem mais tempo.
O primeiro passeio
A não ser que se trate de um dia de chuva ou de muito frio, o bebé pode sair de casa assim que a mãe se sinta pronta para tal. Com tantas novas adaptações e logísticas, o normal é que durante a primeira semana ou primeiros 15 dias não haja tempo nem vontade para passear. E também o bebé estará melhor no recato do lar, junto da mãe. Depois disso, não há razão nenhuma passar os dias inteiros trancados em casa. Evite lugares fechados, mal arejados ou cheios de gente, como centros comerciais e hipermercados, por exemplo. Comece por passeios curtos, para que não seja necessário levar muita bagagem, e de preferência a pé. Quase todos os bebés adoram andar na rua, no sling ou no carrinho, sentem-se embalados, aconchegados e fascinados com tanta coisa nova. Para as mães passear a pé também é uma ótima terapia.
O primeiro dente
Em geral, por volta dos seis meses surge o primeiro dente. Costuma ser um dos incisivos médios inferiores, aqueles que deixam qualquer bebé lindo com ar de velhinho engraçado. Pouco depois nasce o outro. Seguem-se os quatro superiores e, depois, os dois laterais inferiores. A partir dos 12 meses, costumam nascer os primeiros molares, ficando reservado o espaço para os caninos, que só nascem a partir dos 18 meses. A partir dos dois anos nascem os primeiros molares. Por voltas dos 30 meses, estará completa a dentição de leite, também chamada primeira dentição ou dentes decíduos (que caem). Mas estas datas são todas meramente indicativas, cada bebé é único. De tal forma que há bebés que até podem nascer já com um dente (que depois cai). É natural que um dente a romper os tecidos gengivais provoque dor e inflamação. Por isso, também é natural que o bebé ande mais chorão e irritadiço na fase em que os dentes estão a nascer. Muitas vezes se os bebés têm febre sem razão aparente pensa-se que é dos dentes, as atualmente sabe-se que essa associação não tem fundamento. Para aliviar a “raiva dos dentes” existem argolas de dentição (que se põem no frigorífico e o frio ajuda a aliviar a dor e a desinflamar) e vários bálsamos à venda na farmácia. Nalguns casos, pode mesmo ser necessário um analgésico (fale com o médico assistente primeiro). Mas, sobretudo, é preciso muita paciência e amor.
A primeira papa
O ideal é que o bebé mame em exclusivo até aos seis meses, tal como recomenda a Organização Mundial de Saúde. Assim, será a partir desta idade que deverá introduzir a alimentação complementar. No caso de a mãe não dar de mamar, as refeições de colher pode ser iniciadas a partir dos quatro meses. Antes desta idade, o bebé não está preparado para engolir alimentos mais consistentes e tem mais facilidade em engasgar-se. Não há consenso sobre começar pela papa ou pela sopa. As opiniões dividem-se entre os pediatras. Se começar pela papa, terá de escolher uma sem glúten. Se começar pela sopa, convém fazer um puré simples e sem sal (batata, cenoura, temperada com um pouco de azeite). Não espere que o bebé coma tudo o que lhe puser no prato logo nas primeiras refeições. Poderá demorar algum tempo até se adaptar aos novos sabores. É natural que rejeite a colher, que cuspa a comida que entra na boca, que não consiga engolir, que queria mexer na comida com as mãos, que se suje todo, que ria ou que chore perante tao grande novidade. Dê-lhe tempo e paciência. Ele há de aprender a gostar de comer.
A primeira vez que se senta
Por volta dos cinco ou seis meses de vida, o bebé começa a aguentar estar sentado sozinho, pelo menos durante alguns segundos. Só a partir desta idade é que os músculos lombares ganham força suficiente para manter a posição. No princípio, vai cair muitas vezes, é conveniente, por isso, ter sempre almofadas à volta. E vai chorar muitas vezes, de frustração, por não conseguir segurar-se. Ajudá-lo a voltar à posição é essencial para que possa treinar. Entretanto, vai garantindo apoio com uma mão ou duas à frente – posição de tripé – que, apesar de já ser um grande avanço, não dá jeito nenhum para agarrar e examinar os objetos, como se pretende. Pouco recomendável é estimular a posição de W – sentado sobre a parte de trás das pernas – pois pode ser prejudicial para o crescimento dos músculos. Entre os sete e os nove meses começa, por fim, a sentar-se sozinho sem nenhum apoio e durante mais tempo.
O primeiro dia de creche
Não há uma idade certa para um bebé ir para a creche. Tudo depende das condições da família. Mas, seja qual for a idade, o primeiro dia será sempre vivido com muitos receios e ansiedade, principalmente para os pais. O primeiro passo para que tudo corra bem é ter o máximo de confiança na instituição escolhida. Visite-a, de preferência com o bebé para ver também como ele se sente, e observe bem o espaço físico e a atitude do pessoal. Antes de o bebé ficar o dia todo na creche é costume haver um período de adaptação: no primeiro dia a mãe ou o pai fica com ele na creche durante umas horas; no dia seguinte, o bebé fica sozinho, mas apenas algumas horas. Depois, conforme a disponibilidade dos pais, poderá ir aumentando de forma gradual o número de horas que o bebé fica na creche.
Os especialistas recomendam que os pais se despeçam sempre do bebé, e que não saiam às escondidas, mas não devem “arrastar” muito as despedidas. Além disso, mesmo que o bebé seja muito pequeno, explique-lhe o que vai acontecer, diga que a mãe/pai já vem e que gosta muito dele. Em muitos casos, os bebés ficam bem nos primeiros dias, porque estão entusiasmados com tantas novidades enquanto os pais (principalmente as mães) passam o primeiro dia destroçados com o afastamento do bebé. Depois, a tendência será para trocar: os pais vão ficando mais seguros; os bebés percebem que aquilo é para durar e protestam… até que, uns dias depois (semanas, às vezes), acabam por se habituar.
O primeiro passo
A maioria das crianças dá os primeiros passos por volta dos 12 meses. No entanto, umas começam a andar mais cedo, outras começam mais tarde. Até aos 18 meses não há motivo de preocupação. Antes de se aventurar a andar sozinho, o bebé passa por várias fases: pôr-se em pé agarrado a qualquer coisa, aguentar-se em pé sem estar agarrada a nada (teins-teins), andar agarrado e, por fim, soltar-se e andar sozinho. É normal que, nas primeiras vezes, dê apenas uns passinhos e à medida que vai ganhando confiança vá aumentando as distâncias. Também é normal cair muitas vezes nos primeiros tempos. Para que este processo aconteça, é preciso estarem reunidos vários fatores: a criança deve estar biologicamente preparada, tem de sentir vontade e necessidade e tem de perder o medo. Como em outras etapas, o incentivo dos pais é essencial nesta etapa, mas o excesso de preocupação e nervosismo pode ter o efeito contrário, pois o bebé poderá sentir os receios dos pais e retrair-se.
A primeira palavra
As primeiras palavras com sentido são geralmente ditas por volta dos 12 meses. Costuma ser papá ou mamã, mas, ao contrário do que os pais gostam de pensar, estas palavras raramente significam o que parecem. Geralmente significam apenas “pessoa” e, por essa razão, os bebés passam a vida a chamar mamã ou papá a toda a gente. Para estimular a linguagem fale muito com o seu bebé, cante para ele, evite o “paiês”, pronuncie bem as palavras e dê-lhe tempo para pensar e responder. Falar é um fenómeno muito complexo. Para dizer uma coisa temos que pensar nela, identificar o som correspondente, articular os músculos da boca e emiti-la. Tudo isto numa fração de segundos. O desenvolvimento da linguagem varia muito de bebé para bebé. E, geralmente, os rapazes são mais “atrasados” do que as raparigas. Nesta fase, é mais importante a compreensão do que a verbalização. Com um ano, o bebé já percebe, por exemplo, o “dá cá” e o “não” e responde ao seu nome.
O primeiro aniversário
Depois de muitas aventuras e crescimento, o bebé comemora, finalmente, o primeiro aniversário. Os pais preparam esta festa com todo o cuidado e primor, num misto de alegria e alívio. “O pior já passou”, pensam. E é verdade. Nestes 12 meses o bebé desenvolveu-se com uma rapidez que nunca mais se irá repetir. São os 12 meses mais intensos da vida. Da dele e da dos pais. Para a nova família a sensação de chegar aqui é a mesma do que cortar uma meta. Parabéns!
Fonte:
Patrícia Lamúrias
Revista Pais&Filhos
número 288, janeiro 2015