Dois terços do caminho estão percorridos: já passou a fase da surpresa, das incertezas e medos iniciais, a barriga cresceu a olhos vistos, os pontapés do bebé fazem parte da rotina e agora já só pensa em conhecê-lo, olhar para ele, abraçá-lo. Mas até lá, ainda faltam algumas semanas de espera, que podem ser física e emocionalmente desafiantes e desgastantes.
O tamanho e a posição do bebé podem tornar este trimestre muito pouco confortável: é natural que deseje que o dia do parto chegue depressa, mas cada dia que o bebé passa no útero da mãe é uma vitória. Por isso, não há que ter pressa.
O terceiro trimestre começa na 28ª semana de gestação e termina no momento do parto, que geralmente acontece por volta da 40ª semana. Até lá, ainda há consultas, exames e análises para fazer, para garantir que tudo está bem com a mãe e com o bebé. E um ninho para preparar. As consultas no terceiro trimestre passam a ser mais frequentes: “A cada duas a três semanas entre as 30 e as 36 semanas de gestação e a cada uma a duas semanas após as 36 semanas, até ao parto”, especifica a obstetra Maria Augusta Rebordão, referindo que “durante estas consultas são não só avaliados os parâmetros físicos da grávida, tais como o peso, a tensão arterial e a altura do fundo uterino, bem como os exames complementares pedidos para a avaliação completa da grávida e feto, tais como análises e ecografias.
Quanto pesa?
A ecografia do terceiro trimestre, realizada entre as 30 e as 32 semanas e seis dias, é tao importante como as duas anteriores e pode determinar uma alteração da vigilância da gravidez, caso seja detetada alguma anomalia. Neste exame, procura-se “estimar um peso e determinar o percentil de crescimento do feto, localizar a placenta e averiguar a apresentação do feto em relação ao canal de parto (cefálico ou pélvico), contabilizar a quantidade de líquido amniótico e procurar malformações fetais que se manifestam apenas nesta idade gestacional”. Além disso, acrescenta a obstetra, “mede-se o colo do útero, tentando ver se está ou não encurtado e se esse encurtamento coloca em risco a gravidez para um parto pré-termo e observa-se a dinâmica fetal”. Se for detetada alguma anomalia, “quer de crescimento quer anatómica”, o acompanhamento pode alterar-se, “podendo ser a grávida referenciada para o hospital da área de residência onde, dependendo da situação clínica, serão feitos mais exames e mais frequentemente.”
Nesta fase, a grávida deverá também repetir análises sanguíneas: “São basicamente as mesmas do primeiro trimestre, às quais se acrescentam as provas de coagulação (para o caso de ser feita uma epidural) e, às 35 semanas, uma pesquisa de estreptococos Grupo B no exsudado vaginal e anal, para que a sua profilaxia seja feita intraparto caso seja positivo”.
À parte dos aspetos estritamente clínicos, Maria Augusta Rebordão salienta que as consultas do último trimestre são muito importantes também para “conversar sobre os medos e as possibilidades dos diferentes tipos de parto, desmistificar a amamentação, conversar sobre a contraceção pós-parto e o reinício da vida sexual…”. É nestas consultas que a grávida vai procurar respostas para as suas dúvidas finais, desde as mais triviais (“Quando é que tenho de me dirigir à maternidade?”), às mais técnicas (“Posso levar epidural?”), sem esquecer as mais retóricas (“Vai correr tudo bem?”).
Preparar o parto
Nesta altura, a ansiedade em relação ao parto está naturalmente mais presente e pode ser, em alguns casos, difícil de gerir. O medo do parto, da dor ou das complicações, as preocupações com o nascimento e a saúde do bebé estão entre os “principais desafios emocionais e psicológicos com que a grávida se depara no terceiro trimestre”, considera a psicóloga Cláudia Madeira Pereira, acrescentando ainda a esta lista as preocupações relacionadas com “as transformações do corpo, que continua a sofrer mudanças nesta fase, as alterações emocionais provocadas pelo desconforto físico, a ansiedade face ao desempenho do futuro papel de mãe, as dúvidas e incertezas acerca da capacidade para exercer a maternidade”. Estes desafios “são normais e têm a função de preparar a grávida para o parto, para as funções da maternidade, assim como para o estabelecimento de uma forte relação de vinculação com o bebé”, sublinha a psicóloga. Participar num curso de preparação para o parto pode ajudar a diminuir a ansiedade e a encarar estes desafios com mais tranquilidade. “É importante e muito útil porque a grávida e o casal podem desenvolver conhecimentos e competências fundamentais uma vivência saudável da gravidez, parto, pós-parto, amamentação e dos cuidados ao recém-nascido”. Além disso, refere Cláudia Madeira Pereira, “estes cursos proporcionam a partilha de experiências, vivências e sentimentos entre diferentes grávidas e casais, o que é muito benéfico em termos emocionais e psicológicos”.
E enquanto aguarda pelo dia D, o melhor é aproveitar o tempo de espera “para proporcionar a si própria momentos de lazer, relaxamento e meditação, que podem ajudá-la a lidar melhor com a ansiedade,” e procurar desfrutar de “momentos agradáveis na companhia do companheiro, da família e/ou amigos”, sugere a psicóloga. Esta é também a altura ideal para “fazer o ninho”: decorar o quarto, tratar do enxoval, preparar tudo para a chegada do bebé. “A personalização do bebé, das coisas e dos espaços que vão acolher o bebé é importante, não só para a vinculação, mas também para o processo de separação psicológica do feto, que vai permitir à grávida reconhecer o bebé como um ser real, distinto e separado de si”, explica Cláudia Madeira Pereira.
Lado a lado
A presença e o apoio emocional do companheiro nesta fase da gravidez “são muito importantes para a grávida (tal como nas outras fases…)”. E como pode agora ajudar? Das mais variadas formas, sublinha a psicóloga: “Tendo em conta as alterações emocionais que continuam a ocorrer nesta altura, é importante que mostre disponibilidade para escutar e compreender as preocupações, ansiedades e medos da grávida; considerando as alterações corporais que continuam a surgir nesta fase e que podem conduzir a grávida a sentir-se pouco atraente e/ou desejada, é importante que o companheiro continue a demonstrar interesse afetivo e sexual pela grávida; atendendo ao desconforto físico e às dificuldades de mobilidade da grávida nesta fase, é importante que o companheiro esteja disponível para ajudar nas tarefas domésticas, nas rotinas diárias e nos preparativos para o parto”, Mais: “Tendo em conta a ansiedade e o medo do parto, é importante que esteja disponível para acompanhar e proporcionar apoio emocional à grávida durante o parto; atendendo aos medos da grávida relacionados com a sua capacidade para exercer a maternidade, é importante que o companheiro encoraje a autoconfiança da mulher, demonstre disponibilidade para ajudá-la na prestação de cuidados ao bebé, e mostre interesse no desempenho das tarefas e funções parentais”. A lista continua, porque há sempre mais algum ponto onde o pai pode dar a mão, apaziguar, fortalecer. O importante é perceber que todas estas contribuições “podem conduzir a uma vivência psicológica mais saudável desta fase por parte da grávida e contribuir para o fortalecimento da relação do caso parental”.
Plano de parto
Fazer um plano de parto é uma ferramenta muito útil para organizar ideias e perspetivar não só a fase de trabalho de parto, como também o pós-parto. “Pode ajudar a grávida a preparar-se para as particularidades de cada fase do parto”, mas é importante esclarecer dúvidas com o profissional de saúde e partilhar expectativas, de modo a perceber “o que é (e não é) possível fazer”, aconselha Cláudia Madeira Pereira. A maioria dos desejos das grávidas, acrescenta a obstetra Maria Augusta Rebordão, “já são uma realidade na maior parte das unidades hospitalares”. Entre eles, “poder deambular durante o parto, ter um contacto imediato após o nascimento com o bebe e o não oferecer suplemento promovendo o aleitamento materno, bem como evitar episiotomias ou partos cirúrgicos”. Em contrapartida, refere, há aspetos sobre os quais os pais ainda pouco interferem, como “a administração de injeção de vitaminas K, colírio para os olhos do recém-nascido e vacinas”.
Com ou sem plano de parto, o fim da gravidez está para breve e o tão esperado momento vai finalmente chegar. Por isso, é precisar estar atenta aos sinais que indicam que está na hora de ir para a maternidade: contrações uterinas regulares e dolorosas, roturas das membranas (“bolsa de águas”) e perda do rolhão mucoso (indica que o trabalho de parto está iminente, mas ainda pode demorar alguns dias). Mas existem outros sinais que, no terceiro trimestre, não podem ser desvalorizados, independentemente de estar ou não em final de tempo: “Hemorragia vaginal, corrimento vaginal com prurido/ardor, dores abdominais/pélvicas, arrepios ou febre, dor/ardor quando urina, vómitos persistentes, dores de cabeça fortes ou contínuas, perturbações da visão, diminuição dos movimentos fetais”, esclarece Maria Augusta Rebordão. Nestes casos, deve sempre dirigir-se ao médico assistente ou maternidade para que seja feita uma avaliação da situação. Pelo sim, pelo não, leve a mala da maternidade consigo, pois é provável que já só regresse a casa com o bebé ao colo.
Sinais de alerta
No último trimestre de gravidez, os principais sinais de alerta são os que podem traduzir as situações de risco mais preocupantes nesta fase. A obstetra Maria Augusta Rebordão explica quais:
- Parto tré-termo: contrações mais frequentes e/ou dolorosas;
- Hipertensão arterial e consequências: dores de cabeça fortes, persistentes e com escotomas visuais (ver luzinhas quando fecha os olhos), dor do estômago forte que não passa e irradia ao dorso, inchaço dos olhos e/ou generalizado;
- Bebé não mexe 10 vezes em 12 horas: “se não mexe ou está a dormir ou pode estar menos bem”.
Em qualquer dos casos, o mais acertado é dirigir-se à maternidade para que a situação possa ser devidamente avaliada.
Está pronto para nascer
Embora já tenha todos os órgãos e sistemas formados, é ao longo do terceiro trimestre que o bebé amadurece e se prepara para o nascimento. Antes disso “é incapaz de sobreviver com qualidade, porque esse órgãos e sistemas não se encontram ainda ‘maduros’, capazes de funcionar em pleno”, salienta Maria Augusta Rebordão. Precisam de tempo. “Cada dia dentro do útero conta e é uma vitória”. A partir da 37ª semana, o bebé já é considerado de termo: está completamente formado e pode nascer a qualquer momento. Ainda assim, não há que apressar a sua chegada: “Retirar um feto antes das 39 semanas sem razão obstétrica/materna não cumpre a boa prática”, sublinha a especialista. O ideal é esperar que o trabalho de parto se inicie espontaneamente.
Fonte:
Teresa Martins
Pais & Filhos, número 304, maio 2016